"O viver é Cristo e o morrer é ganho." Filipenses 1.21
Quando sabemos que alguém se tornou plenamente espiritual? E o que o versículo acima revela sobre isso?
Sabemos que alguém se tornou completamente espiritual quando essa pessoa deixa de temer a morte.
Mas o que isso significa, e como isso melhora a nossa qualidade de vida e a nossa comunhão com Deus?
A primeira coisa que preciso deixar bem claro aqui é que perder o medo da morte não significa, em hipótese alguma, desistir da própria vida ou adotar quaisquer tipos de atitudes autodestrutivas; muito pelo contrário. Porque somente aqueles que verdadeiramente transcenderam o medo da morte é que alcançaram o pleno conhecimento da vida, e de como aproveitá-la por inteiro, adequadamente, em todas as suas nuances e até mesmo nas dificuldades e desafios que ela apresenta (e sempre nos apresentará), pois como foi dito no texto de João 16.33: "...No mundo tereis aflições...".
Todo aquele que perde o medo da morte, não deseja a morte, mas apenas compreende plenamente a naturalidade e a inevitabilidade dela no devido tempo; porém, tais pessoas são as que melhor sabem como apreciar toda a essência da vida de uma maneira sábia e sadia, ou seja, esses indivíduos são os que vivem de modo realmente espiritual, sem serem iludidos, manipulados, ameaçados, atormentados, ou torturados pelo próprio Ego carnal, como é tão comum ocorrer com a maioria da humanidade.
Perder o medo da morte não é o que as pessoas pensam, não é viver loucamente, nem tampouco agir de maneira temerária, intempestiva, perigosa ou autodestrutiva; na verdade, perder o medo da morte significa reconhecer que a vida é inestimável, e isso gera uma conscientização espiritual tão profunda em nós que passamos a amar a vida por inteiro, sem ressalvas, independentemente da forma como ela se apresenta diante de nós; de modo que passamos a cultivar pensamentos, sentimentos, emoções, palavras e ações que sustentam e fortalecem a nossa própria vida, assim como a vida de todas as pessoas ao nosso redor, sejam conhecidos ou desconhecido; pois nós passamos a reconhecer a vida como ela realmente é, em todo o seu inestimável valor.
E o que a vida realmente é?
A essência do próprio Criador. Por isso também é que Jesus falou o que foi registrado em João 14.6, que diz: "...Eu sou o caminho, e a verdade e a vida.". Cristo é a nossa vida, literalmente, e foi também por compreender isso que o apóstolo Paulo escreveu que "O viver é Cristo...". De fato, Paulo entendeu que Cristo é, literalmente, a vida que anima todas as coisas que existem na Criação, por isso ele, quando estava em Atenas, declarou o que está registrado no texto de Atos 17.28, que diz: "Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos...". Esse entendimento, essa compreensão elevada, gera o discernimento que dissolve por completo o medo de morrer, que é uma das características principais do Ego carnal humano que governa a mente, e por consequência, toda a existência da maioria da população mundial.
Perder o medo da morte significa perceber que ela não pode nos atingir, ou seja, ela não pode atingir quem nós realmente somos, o nosso espírito. Tudo o que isso que a sociedade humana aprendeu a chamar de morte pode fazer com os verdadeiros cristãos é atingir o corpo físico, que é a menor parte de quem nós realmente somos; mas como a maioria dos indivíduos, mesmo dentro das mais diversas congregações, não têm esse discernimento sobre si mesmos, continuam sendo, de uma maneira ou de outra, assombrados e flagelados pelo maior medo do Ego carnal que há neles, que é o medo de morrer. Mas veja o que Jesus, que é a própria vida, diz no texto de Mateus 10.28: "Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma...".
Perder o medo da morte significa se estabelecer na consciência de que a vida que há em nós, a vida que nós somos (que é o próprio Cristo) é muito maior do que aquilo que a sociedade, e o Ego, chamam de morte; e esse é um dos motivos de o texto de 1 João 4.4 afirmar que "...Maior é o que está em vós do que o que está no mundo.". A vida que compartilhamos com cada indivíduo da humanidade é muito mais vasta do que a morte física provocada pelo espírito do mundo através do pecado original, e, se realmente já despertamos para a Verdade, essa vida jamais poderá ser tirada, separada ou usurpada de nós, pois a compreensão do que a vida realmente é, em nós, nos coloca em perfeita unidade com a essência de Cristo, que é a vida que anima todas as vidas, inclusive para algumas pessoas que já foram afetadas pela morte física; e esse também é um dos motivos de o próprio Jesus ter afirmado o que foi registrado no texto de João 11.25, que diz: "...Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá.".
Note porém que, crer em Cristo não significa apenas construir e sustentar uma crença intelectual (teológica, filosófica ou psicológica) sobre a existência de Jesus, nem tampouco, criar e se apegar, a uma identidade social-cultural-religiosa, e congregacional, mesmo que baseada na bíblia, por que as pessoas que assim procedem são justamente aquelas as quais o próprio Cristo se refere no texto de Mateus 15.8, que diz: "Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.". Crer em Cristo significa reconhecê-lo, pela Escritura Sagrada, dentro de nós mesmo, justamente como a vida que possuímos (a vida que nós somos) e que permanecerá conosco para a eternidade desde que sejamos capazes de reconhecê-la e aceitá-la como tal antes que o tempo "dissolva" nosso corpo físico. De fato, só podemos dizer verdadeiramente que cremos em Cristo se tivermos plena consciência de que Ele é, literalmente, a vida que há em nós.
A sociedade humana, por influência do Ego carnal que habita à porção mais superficial da mente de cada um de nós, nos ensinou que a morte é um evento específico que ocorre quando o corpo humano (que é tudo o que a maioria da humanidade conhece sobre si mesmos) se desfaz e perde a alma, que é a essência vital que gera "anima" em toda a nossa biologia natural e física; mas esse entendimento que recebemos desde a infância está equivocado e serve apenas para nos confundir e enganar. A verdade é que a morte física não é um evento repentino, mas sim o fim de um processo natural cujo início se deu no exato momento do nosso nascimento nessa dimensão física. A morte não é a perda da vida, mas sim, de uma única vez, apenas, o fim do corpo e do Ego, por isso é que essa parte decaída de nós tem tanto medo da morte, pois ela é o ponto final para todas as corrupções, ilusões e mentiras da carne egocêntrica. O problema é que a maioria das pessoas passaram toda a sua existência, inconscientemente, se assumindo apenas como o Ego carnal que há neles.
Todo aquele que, como Paulo, se tornou plenamente espiritual, ou seja, conseguiu discernir a diferença entre o próprio espírito e o Ego que há em si, e interiormente se separou (desvencilhou) de tal Ego, esse tal tornou-se o que a Escritura Sagrada chama de santo, e perdeu completamente o medo da morte; assim sendo tornou-se muito mais vivo(a), emanando vida para todos ao seu redor, tanto por obras quanto por palavras, como o texto de Provérbios 10.11 declara ao dizer que: "Os lábios do justo são fonte de vida...". Quando isso acontece, começamos a "sentir" a vida fluindo em nós, e através de nós, como nunca antes, mesmo nas menores e aparentemente mais insignificante coisas. Aprendemos a habitar (viver) no dia de hoje e paramos de sofrer com o passado ou com o futuro; encontramos o prazer sublime, a satisfação e a realização com os aspectos mais socialmente ordinários da nossa existência, aspectos esses que têm sido, sistematicamente, cada vez mais, negligenciados pelas multidões, mesmo dentre aqueles que estão nas mais diversas congregações, sejam membros ou líderes. Em resumo, somente quando perdemos ou começamos a perder o medo da morte é que saímos do "vale da sombra da morte", dessa maneira, a nossa vida "desabrocha" e se ilumina, dentro e fora de nós, de modo que finalmente conseguimos parar para olhar e admirar os lírios do campo e as aves do céu, para aprender importantes lições espirituais com elas; assim como, despertamos uma profunda alegria ao presenciarmos cada "pequena" parte da gloriosa criação de Deus que nos cerca.
O escritor irlandês Oscar Wilde disse certa vez que: "Viver é a coisa mais rara do mundo, pois a maioria das pessoas apenas existe.". Porém, quando alguém desperta para a Verdade, e o medo da morte se dissipa dentro de tal pessoa, como Paulo demonstra ter ocorrido com ele ao dizer que "o viver é Cristo e o morrer é ganho", deixamos apenas de existir (ocupar espaço físico no plano da Criação) e começamos a viver (estar em total unidade e harmonia com a vida divina, Cristo, que anima todas as coisas), assim, nossa caminhada pela existência torna-se realmente vívida e virtuosa, e a vida que há em nós, a vida que nós somos, continuará conosco para todo o sempre.
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