"É necessário que ele cresça e que eu diminua." João 3.30
Quantos "eu" você tem?
Na essência da afirmação feita pelo profeta João Batista está contida uma revelação que tem passado despercebida por muitas pessoas.
E que revelação é essa?
A conscientização de quem (ou qual) é o nosso verdadeiro eu, assim como o claro discernimento entre ele e o falso "eu" que há em todos nós.
Mas como assim?
O texto de João 3.30 diz o seguinte: "...É necessário que eu diminua.". Em outras palavras o que está sendo dito e que para que a Presença de Deus, na Pessoa de Cristo, se expanda dentro de nós e aperfeiçoe toda a nossa existência é necessário que uma parte considerável de quem nós achamos que somos seja diminuída o máximo possível; tal parte e o que o profeta João Batista chama de "eu". Mas a pergunta que faço a você é: Qual, quem, ou o que é esse "eu"?
A maioria absoluta das pessoas na sociedade atual, assim como dentro das mais variadas congregações, não têm nenhuma ideia de qual dos seus "eu" tem governado toda a maneira como pensam, sentem, falam, agem e vivem; por esse motivo, por essa inconsciência a respeito da existência dos seus vários "eu"; o "eu" que tem prevalecido na vida deles desde a infância e justamente o "eu" errado.
Deixe-me fazer mais algumas perguntas importantes para sua reflexão, e peço que você tente pensar nelas de uma maneira mais profunda examinando a si mesmo. Eis as perguntas:
* Quando alguém diz: "Eu tenho um sonho." Quem e esse eu que esta falando?
* Quando alguém pensa: "Eu preciso de mais fé.". Quem e esse eu?
* Quando alguém se apresenta dizendo: "Eu sou médico, professor, vendedor, escritor, pastor, etc... Quem e esse eu que esta se apresentando?
Semelhantemente; quando alguém pensa: "eu estou triste, eu não gosto disso ou daquilo, eu me sinto infeliz, eu não aguento mais, eu estou sofrendo muito, eu estou tão alegre; e muitas outras coisas como essas. Quem e esse "eu" que esta pensando, sentindo e falando todas essas coisas?
Se prestarmos muita atenção em nós mesmos perceberemos que, na maioria dos casos, para não dizer em todos, esse "eu" que pensa, sente, fala e age em grande parte das ocasiões, através de nós, é justamente esse "eu errado", aquele que João batista diz que deve diminuir para que a Presença e a Virtude de Deus se erga dentro de nós. Esse "eu errado" é o nosso "eu" psicossocial, o Ego carnal que há em todos nós. De fato, todos fomos adestrados, pela sociedade que nos cerca, a acreditar que somos esse "falso eu", mas a verdade e que tal "eu" não e o nosso verdadeiro ser, ao contrário, ele e uma ilusão persistente, uma ficção psicossocial que tem se passado por nós durante toda a nossa vida e se apossado arbitrariamente de todos os nossos pensamentos, sentimentos, emoções, palavras e ações. E e sobre esse "eu" ficcional, artificial e fantasioso que o Profeta João Batista está se referindo no texto de João 3.30, quando diz: "...E necessário que eu diminua."; porque enquanto estivermos presos nas garras desse "falso eu" que, por causa do pecado original, há em nós, o qual a Escritura Sagrada chama de carne e os mais variados sábios costumam chamar de Ego, seremos incapazes de ter contato com o nosso verdadeiro eu, que é a nossa real essência, o espírito que nós somos; e sem esse contato com o nosso espírito perdemos também a conexão com o Espírito de Deus, uma vez que Ele usa o nosso espírito para nos inspirar e direcionar segundo a Sua vontade que de acordo com o texto de Romanos 12.2 e boa , perfeita e agradável.
Todo cristão verdadeiro compreende que dentro de si há mais do que o aquilo que nos acostumamos a chamar de "eu" desde sempre, e sabe também que esse "eu" que nos acompanhou desde a infância não e o eu real, espiritual (puro, simples, livre, feliz e perfeito) mas sim o "eu falso" egoico e carnal. E se não formos capazes de tirá-lo do caminho ele usurpara a nossa existência, ou seja, roubara e viverá a única vida que o Criador nos deu tão amorosamente e que Cristo veio para nos ensinar e dar condições de experienciá-la por completo em toda a sua plenitude em todos os aspectos. De fato, certa vez li um pequeno texto que me ajudou a pensar a esse respeito, e dizia assim: Um homem procurou um sábio e disse: Eu desejo ser feliz. O sábio ouviu aquelas palavras, pensou por um minuto e então finalmente respondeu: Para ser feliz, tire o eu e tire o desejo.
E o que isso significa?
Significa que enquanto esse "eu" psicossocial (egoico/carnal), que nos esforçamos tanto para desenvolver, for soberano em nós, não seremos capazes de manter plena unidade com a Presença de Deus, logo, não conseguiremos ser felizes e frutificar adequadamente em todas as questões e níveis da nossa existência, mesmo que socialmente sejamos vistos como bem-sucedidos; assim, nunca seremos realizados na mais profunda acepção da palavra. portanto, para fazer com que esse "eu artificial" que há em nós diminua, ou seja, perca a intensidade e o domínio, para que o nosso verdadeiro eu possa se beneficiar com o crescimento (a expansão) da Presença do Altíssimo em nós; é necessário entendermos claramente quantos "eu" existem dentro de nós e quais são eles.
Embora a maioria dos indivíduos não saiba, todo ser humano é composto por três "eu" distintos, que são: O "eu social", o "eu mental" e o eu espiritual (que é o verdadeiro).
E o que é cada um deles?
* O "eu social" é a menor parte de quem nós somos, mas é a única que a maioria absoluta das pessoas conhece e luta desesperadamente para aprimorar e refinar. Esse é o que o texto de 2 Coríntios 4.16 chama de "o nosso homem exterior". O "eu social" é a imagem que projetamos na coletividade, é a forma como as outras pessoas olham para nós e nos rotulam nos ambientes nos quais estamos inseridos, o seja, esse "eu" é a nossa reputação, posição, status, influência, fama, aparência, autoridade, poder aquisitivo, assim como o conjunto de bens, posses; e tantas outras coisas semelhantes; em outras palavras, ele é o nosso estilo de vida. E é óbvio que nos dias atuais esse nosso "eu" se apresenta tanto na dimensão física quanto na virtual com todas as redes sociais que são tão usadas e exploradas para demonstrar a "perfeição" da vida social de todos. Entretanto, é importante notar que esse nosso "eu social" é na verdade apenas uma projeção do "eu" que tiver maior controle da nossa existência; o que para a maioria dos indivíduos geralmente é o "eu errado".
E qual é esse "eu errado"?
* O segundo "eu", que é o "eu mental". Justamente aquele que é referido no texto de 1 Coríntios 2.14 como "O homem natural que não compreende as coisas do Espírito de Deus.". Ele é a forma como vemos a nós mesmos, assim como a maneira como percebemos tudo e todos ao nosso redor, e até mesmo a própria criação. Esse "eu" guia o modo como interagimos com o nosso passado, presente e futuro, dentro da nossa própria cabeça, tal como o jeito distorcido como lidamos com nossos pensamentos, sentimentos e emoções. O "eu mental" é a nossa personalidade, assim, ele interfere e projeta a si mesmo em todas as palavras e ações do nosso "eu social"; isso significa que, todas as palavras e atitudes que tomamos (ou não) na nossa vida cotidiana, seja com relação a nós mesmos ou a alguma circunstância, situação, objeto ou pessoa, é fruto de como a nossa mente natural "vê" e lida com tais coisas. De fato, o "eu mental" deixa sua "impressão digital", sua marca distorcida, em tudo o que fazemos, pensamos, sonhamos, desejamos e falamos desde o início da nossa vida, e tem governado com mão de ferro a existência da maioria da humanidade sem que os indivíduos tenham consciência de que não estão vivendo a própria vida, pois ela foi usurpada pelo "eu mental" que há neles. Isso é o que costumo chamar de "A tirania do eu"; e infelizmente essa é a condição interior de grande parte das pessoas que existem atualmente, mesmo dentre aquelas nas mais diversas congregações, sejam membros ou até líderes.
Esse "eu mental" é a natureza carnal que existe em todos nós, isso significa que ele é vicioso por definição, ou seja, ele é alienado, tagarela, inquieto, descontrolado, insatisfeito, acelerado, infeliz, insaciável, compulsivo, impulsivo, ansioso, instável, obsessivo, passional, imaturo, violento, egoísta, combativo, cego, megalomaníaco, raivoso, desejoso, dramático, reativo, problemático (sempre criando dificuldades para nós), "ofendível" (sempre se ofendendo com tudo e tornando todas as coisas em algo intensamente pessoal), completamente viciado nos rótulos e títulos sociais, e muitas outras coisas semelhantes, pois foi condicionado (domesticado), desde a nossa infância, pelas mais diversas vozes, forças e agentes sociais, mesmo dentro das mais diversas congregações, para nos fazer pensar, sentir, falar e agir sempre de acordo com as formas e maneiras pré-determinadas e específicas, segundo os padrões, modelos e algoritmos que regem quase toda a coletividade. Assim, o "eu mental" da humanidade ficou totalmente deformado, ou seja, cem por cento centrado e apoiado apenas sobre si mesmo, o que faz com que ele seja naturalmente insaciável no que diz respeito a todos os aspectos da vida, sempre querendo ser servido como se fosse um deus moderno. Por isso também é que o texto de Filipenses 3.19 diz que o deus de certas pessoas é o próprio ventre delas, como está escrito: "...O deus deles é o ventre...".
Na verdade esse "eu mental", voltado para si mesmo, é o que muitos sábios têm chamado de Ego, e o que a Escritura Sagrada chama de carne. Nele reside toda a nossa fraqueza como seres humanos, nossas dúvidas, nossos preconceitos, nossas expectativas exageradas, nossos medos, nossas frustrações, nosso egoísmo, nossa arrogância, nossa intolerância, nossa insegurança, nossas angústias, nossa religiosidade, nossa bondade com segundas intensões, nossa impaciência, nossos dramas, nossos traumas, nossa ansiedade, nossas ilusões, e toda a iniquidade (imperfeições) que há em cada um de nós, e esse é um dos motivos de o próprio Cristo ter falado o que foi registrado na parte final do texto de Mateus 26.41, que diz: "...A carne é fraca.". Esse "eu mental" deturpa e tumultua tudo com o que tem contato e ele é justamente o que tem atormentado violentamente multidões ao redor do planeta, sem que tais indivíduos consigam perceber. Pois, sem o despertar do nosso verdadeiro eu, ficamos totalmente limitados pela forma nebulosa com a qual o "eu mental" compreende (ou não) a vida, assim como pela maneira como ele finge entender as coisas espirituais.
"A inconsciente servidão das pessoas ao seu "eu mental" está levando toda a sociedade, e até o próprio planeta, ao colapso.".
Esse "eu mental" é a semente de todos os males que assolam a humanidade desde o início dos tempos; foi isso o que fez com que Adão tivesse medo de se mostrar diante de Deus após comer do fruto proibido; foi o que fez Caim tirar a vida do próprio irmão, Abel; foi o que fez Judas aceitar as sugestões do espírito do mundo e trair Jesus; foi o que fez Sansão revelar seus segredos para Dalila; foi o que atormentou, corrompeu e arruinou o rei Saul; foi o que mantinha Saulo agindo como perseguidor da igreja de Cristo; e muito mais. É especificamente sobre esse "eu" que o profeta João Batista está se referindo quando diz: "É necessário que eu diminua"; Na verdade, todo cristão genuíno compreende a necessidade de diminuir o controle que o Ego/carne/mente natural tem sobre nós, pois quanto menos intensidade o Ego tiver na nossa vida, mais o nosso verdadeiro eu será capaz de nos guiar de maneira correta em todos os aspectos da nossa existência, exatamente como foi criado por Deus para fazer.
E isso nos traz finalmente ao terceiro eu que há em nós, porém, na verdade, ele é o primeiro. O eu espiritual. Aquilo que o texto de 2 Coríntios 4.16 chama de "O nosso homem interior, que se renova de dia em dia.". Esse é a maior parte de quem nós realmente somos, o nosso verdadeiro ser; a nossa essência atemporal; a parte de nós que existe além da mente, ou seja, além do Ego, além da carne; e para usar as palavras de Cristo em Mateus 26.41, esse é o espírito que está pronto; o nosso espírito perfeito, porém, o problema é que não sabemos disso porque passamos tempo demais envolvidos e entretidos nas coisas da nossa mente (eu mental); de modo que temos nos engajado de tal forma com nossos outros "eu" que ficamos completamente inconscientes de que o espírito é o que nós somos além das aparências, máscaras e fantasias do "eu social", assim como, além das ilusões distorções, sonhos e delírios do "eu mental".
O eu espiritual, o nosso espírito, é a presença livre, consciente e plena, ou melhor dizendo, ele é a consciência pura, pacífica e serena que há em nós, mas geralmente não percebemos porque a nossa mente está sempre imensamente ocupada, ou transtornada, com absolutamente tudo em que se pode pensar, sonhar, desejar e ambicionar, sempre saltando de um problema para outro, de um desejo para outro, de um sonho para outro, de uma ambição para outra, de uma experiência para outra, de uma fantasia para outra, de um lugar para outro, de um tempo para outro, de uma realização para outra, de uma compra para outra, de um sentimento para outro, e assim por diante; infinitamente, e sem cessar um segundo sequer; entretanto, o eu espiritual permanece observando silenciosamente e contemplativamente a toda a movimentação frenética e alucinada que é a turbação mental e social dos outros "eu" em nós, apenas aguardando que, pela luz produzida com o entendimento da Santa Palavra de Deus, passemos a ver claramente a existência e o comportamento desses outros "eu" e a rejeitar o domínio do "eu mental" que afeta toda a nossa maneira de viver produzindo um enorme peso psicossocial que está sufocando e esmagando milhões de pessoas nos mais diversos lugares do planeta, inclusive entre aqueles que estão dentro de congregações.
Uma vez conscientes dessa verdade, ou seja, da existência e do comportamento dos falsos "eu" em nós, assim como da nossa real natureza como eu espiritual, passamos a nos apoiar muito mais na nossa verdadeira essência espiritual do que nos impulsos e estímulos da nossa mente; logo, nos tornamos livres exatamente como foi revelado no texto de João 8.32, que diz: "E conhecereis a verdade e a verdade, e a verdade vos libertará.". Nesse ponto, todo o peso psicossocial que temos carregado por toda a nossa vida começa a diminuir, ou seja, a perder intensidade e se desfazer, pois a simples compreensão de que nós não somos a nossa mente nos livra de grande parte das garras e dos tentáculos do Ego/carne, dessa maneira toda a nossa vida cotidiana (social) começa a ser cada vez menos influenciada e controlada pelos impulsos e estímulos do "eu mental" e mais inspirada pelo verdadeiro eu espiritual, isso também é o que a Escritura chama de andar em Espírito, como está escrito em Gálatas 5.16, que diz: "...Andai em Espírito e não cumprireis as concupiscências da carne."; porque quando ocupamos com o espírito o espaço interior que antes era governado pela mente natural, encontramos a maravilhosa conexão com o próprio Espírito de Deus dentro de nós. Isso transforma completamente toda a nossa maneira de pensar, sentir, falar e agir de uma maneira tão profunda quanto uma metamorfose. Assim, com o devido tempo, essa conexão íntima, entre o Espírito Santo e nós, se expande nos livrando completamente de toda negatividade, toxicidade e inconsciência do Ego/carne, reduzindo a nossa mente ao seu devido lugar, que é ser uma poderosa, e bem ajustada, ferramenta, desenvolvida para nos ajudar a viver interna e externamente de maneira equilibrada e harmônica em todos os aspectos; e essa nossa "nova mente", serva do nosso espírito e purificada pela luz consciente do Espírito Santo é o que a Escritura Sagrada também chama, na segunda parte de 1 Coríntios 2.16, de a mente de Cristo.
Comentários
Postar um comentário