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"E disse Deus a Moisés: Eu sou o que sou..." Êxodo 3.14

 


"E disse Deus a Moisés: Eu sou o que sou..." Êxodo 3.14

O que essa maravilhosa e emblemática afirmação de Deus pode ensinar a nós sobre nós mesmos?

Se eu fizer a seguinte pergunta: "Quem é você?" O que você responderá?

Todos os seres humanos nascem presos à maneira de pensar na qual fomos concebidos, e durante nossa existência vamos sendo condicionados a solidificar cada vez mais essa forma de pensar que, em um nível superficial da vida pode até ter alguma utilidade, mas no nível mais essencial da nossa existência acaba nos impedindo, e criando grandes barreiras, para que não sejamos capazes de descobrir quem nós realmente somos em Deus.

E que maneira de pensar condicionada é essa?

Aquela que nos induz a pensar que nós somos um amontoado formado unicamente por uma quantidade absurda de conceitos, definições, predicados, títulos e rótulos psicossociais e superficiais.

E o que isso significa?

Significa que a maioria absoluta das pessoas é incapaz de enxergar a si mesmo(a) além da personalidade social (ou devo dizer: Personagem social) que eles vêm construindo, desenvolvendo, cultivando, polindo e ajustando desde a infância para se enquadrar no status quo. De fato, o espírito do mundo colocou toda a humanidade em uma espécie de sistema social cujo objetivo é fazer os indivíduos acumularem cada vez mais rótulos, títulos e predicados sociais (conquistados, comprados, recebidos, herdados ou usurpados) de modo a confundi-los para que não consigam ter consciência plena de que foram criados para viver além, e ser mais, do que aquilo que a sociedade os induz a achar que são, ou os incita a sonhar que podem ser.

Pergunte a várias pessoas na sociedade, ou mesmo dentro das mais diversas congregações, quem elas são e você terá respostas muito parecidas com:

*Eu sou o doutor(a) "Fulano(a)";

*Eu sou o pastor(a) "Beltrano(a)";

As pessoas gostam de deixar muito claro em que nível social estão, ou seja, gostam de ficar repetindo quem são eles dentro do contexto da sociedade, geralmente dizem coisas como: Eu sou advogado(a), engenheiro(a), professor(a), vendedor(a), empresário(a), empreendedor(a), jornalista, missionário(a), escritor(a), psicólogo(a), coach, youtuber, e etc... E por mais que, em um nível social seja correto dizer tais coisas, o problema que as pessoas não percebem é que com o tempo elas começam a reduzir quem são unicamente à sua "persona social". Quando alguém diz "eu sou isso" ou "eu sou aquilo", o que tais indivíduos estão fazendo, inconscientemente, é restringir o seu senso de existência como seres humanos apenas à sua ocupação social; e pela repetição, acabam se autossugestionando e se "auto-convencendo" de que aquilo é tudo o que são; de modo que mesmo quando não revelam abertamente qual é o seu rótulo social, este permanece implícito, de alguma forma, em todas as suas interações, afetando tudo o que tais pessoas pensam, falam, fazem e ambicionam; porém, o que esses indivíduos ignoram, é o fato de que apesar de que no âmbito social no qual estamos inseridos, esses rótulos (sejam quais forem, não apenas profissionais) fazerem sentido e terem sua devida utilidade prática; no âmbito mais essencial de existência, tais rótulos e outras "etiquetas" não passam de pesos e fardos aos quais homens e mulheres estão violentamente apegados. E esse é justamente um dos motivos mais fortes pelos quais várias aflições de espírito (sofrimentos) estão se proliferando no interior de uma multidão cada vez maior ao redor do planeta.

A verdade essencial que muitos estão negligenciando é o fato de que nós não somos os rótulos, definições, predicados, títulos ou quaisquer outras "etiquetas" sociais que possuímos, sejam elas conquistadas, recebidas, compradas, herdadas, ou usurpadas; porque todas essas coisas dizem respeito apenas à parte mais superficial de quem nós realmente somos, que é a nossa porção social; entretanto, todo indivíduo é muito mais do que apenas um ser social, embora a maioria absoluta das pessoas não se dê conta disso porque têm se dedicado a desempenhar unicamente esse "personagem" por um longo tempo, desde a infância. A verdade é que todo indivíduo é um ser triuno, ou seja, composto da unidade perfeita e harmônica de três "partes" distintas, que são, a nossa "parte" social ou física (que é a menor delas), a nossa "parte" mental, e a nossa "parte" espiritual (que é a maior).

O problema é que as pessoas se tornaram tão obsessivas, compulsivas e possessivas em relação ao seu "Eu" (Sua persona) social, com todos os dilemas, dramas, ambições, questões e devaneios que fazem parte dele, que ficaram completamente cegas para a totalidade do seu verdadeiro "Eu" (que para ser realmente conhecido precisar que os indivíduos levem em profunda consideração tanto a sua mente com todas as questões que ela possui, como o seu espírito com tudo o que constitui essa "dimensão" em nós).

Em João 8.32 está escrito: "E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.". Parte da verdade que Cristo veio nos fazer conhecer é a consciência de que nós não somos apenas seres sociais, como o mundo quer nos fazer acreditar desde a infância; nosso verdadeiro Eu é muito mais vasto do que podemos enxergar usando apenas a visão e as medidas da sociedade. Por esse motivo, também, o próprio Cristo disse o que está registrado em João 17.16, a saber: "Não são do mundo, como eu do mundo não sou.". Em outras palavras o que o mestre está dizendo é: Vocês não são apenas seres sociais, assim como eu também não sou.

Quando Deus disse a Moisés: "Eu sou o que sou...", Ele estava afirmando, também, que está acima de todos os rótulos, títulos, definições e predicados, com os quais as pessoas na sociedade e a própria mente humana tentam desesperadamente entender tudo com o que têm contato; assim como estava deixando claro que nem Moisés, nem o faraó, nem qualquer outra pessoa conseguiria compreender o Altíssimo olhando para Ele apenas pelas lentes e pelas métricas das "etiquetas" sociais; ou seja, o verdadeiro Eu de Deus não está construído nem é sustentado por nenhum conceito social, muito embora, transformar o Criador em um mero conceito social tenha sido, e ainda é, o principal objetivo das religiões através dos séculos. Mesmo assim, a verdade permanece imutável, e o Eu de Deus continua sendo muito mais do que meros conceitos e etiquetas sociais, superficiais, são capazes de compreender, medir ou comparar, e esse entendimento é algo que os verdadeiros cristãos têm muito claro no seu interior.

Mas o que isso nos diz sobre o nosso verdadeiro Eu?

Diz muito; uma vez que segundo o texto registrado em Gênesis 1.26, nós fomos feitos à imagem e semelhança do Criador. Isso significa que o nosso verdadeiro Eu; em outras palavras, quem nós realmente somos, também é algo muito mais vasto do que as meras "etiquetas" sociais que possuímos e conquistamos são capazes de captar ou transmitir, mas se estivermos tão identificados e apegados a tais rótulos, títulos, definições e predicados sociais quanto a maioria da população, permaneceremos presos a elas, cativos e condicionados de uma maneira que não conseguiremos enxergar nada além do que há na sociedade; nossa mente e nosso espírito serão sempre territórios obscuros e desconhecidos para nós mesmos e a nossa vida será um reflexo disso, de modo que mesmo a visão que tivermos da própria sociedade será distorcida.

Note, porém, que eu não estou dizendo que os seus títulos, rótulos e predicados sociais são algo totalmente ruins e abomináveis, não, pois eles também são uma parte de nós; o que estou dizendo é que não devemos derivar (construir e sustentar) o nosso senso de existência somente a partir das etiquetas sociais que estão em nós, pois dessa maneira acabamos reduzindo o nosso Eu real a uma mera máscara social, uma "persona", (e é isso o que o espírito do mundo quer que façamos); em outras palavras, o que estou pontuando aqui é que:

*Você não é apenas um médico(a), você é bem mais do que isso;

*Você não é somente um pastor(a), você é muito mais do que isso;

*Você não é apenas um vendedor, atendente, professor, empreendedor, varredor, etc... Você é muito além do que apenas isso;

*Você não é apenas um funcionário(a), um empresário(a), ou um empreendedor(a); você é bem mais do que apenas isso;

* Você não é somente alguém, "pobre" ou "rico", você é mais do que isso;

*Você não é apenas um conjunto de números na sua identidade ou em qualquer outro documento; você é infinitamente mais do que apenas isso.

Semelhantemente:

*Você não é apenas carioca, paulista, pernambucano, paranaense, mineiro, amazonense, cearense..., brasileiro(a), português(a) africano(a), japonês(a), etc...; você é muito mais do que apenas isso;

*Você não é apenas "dessa" ou "daquela" religião, você é muito mais do que somente isso;

*Você não é apenas membro ou líder da congregação "A", ou "B", ou "X", ou "Y", ou "Z", você é algo além de tudo isso;

Você entende? Não reduza a si mesmo(a) a meros conceitos, rótulos, títulos e predicados sociais, por mais atrativos que eles sejam, ou por mais que eles tenham a sua devida utilidade prática na nossa vida cotidiana em sociedade.

Espero que esses exemplos tenham servido para você compreender um pouco mais que o seu verdadeiro Eu é muito maior do que podemos perceber apenas usando qualquer tipo de rótulos (personas) sociais, pois ao entender isso você começará a enxergar a própria vida sob uma nova e renovada perspectiva, mais elevada, menos inconsciente, menos engessada, menos limitada, menos reduzida e menos aprisionada pelos conceitos e "etiquetas" sociais que fazem parte da sua vida em sociedade. Do contrário, se continuar insistindo em construir e sustentar todo o seu senso de existência apenas a partir dos rótulos e "etiquetas" sociais que estão em você, então continuará edificando, arrumando e enfeitando o seu próprio cativeiro, assim, terá ou continuará com enormes dificuldades de lidar e resolver quaisquer questões e desafios mentais e espirituais que a vida colocar à sua frente, pois você estará sempre pensando de modo restrito, como um ser meramente social, mas qualquer adversidade mental ou espiritual que tivermos de enfrentar (e serão muitas durante a caminhada) só podem ser percebidas, entendidas, sanadas e superadas se o nosso nível de compreensão estiver pleno, ou seja, operando levando também em consideração a nossa totalidade como seres humanos, e isso engloba necessariamente a nossa parte mental e espiritual; por isso também foi escrito em 1 Coríntios 2.14 o texto que diz: "Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente."

Em outras palavras, se tentarmos entender as questões espirituais assim como resolver os dilemas mentais que há em nós sempre a partir de uma perspectiva meramente social, ficaremos sempre confusos, presos e sofrendo, pois não saberemos como lidar com essas coisas de maneira adequada, exatamente como está acontecendo com as multidões, mesmo dentro das mais diversas congregações, entre membros ou líderes. É necessário que todo o nosso entendimento de quem somos se eleve a um nível superior para que possamos ter uma compreensão mais ampla e clara do nosso verdadeiro Eu, tal como de tudo o que constitui a nossa existência (interior e exteriormente), e assim, finalmente seremos capazes de lidar adequadamente com qualquer situação ou circunstância, boa ou ruim, que surgir diante de nós, tanto na vida social, quanto na nossa mente ou até mesmo na dimensão do nosso espírito.

Todo cristão verdadeiro sabe que ao deixarmos de construir e sustentar o nosso senso de existência, em um "Eu social" (incompleto e frágil por natureza), baseado somente em etiquetas e rótulos diversos, por mais desejáveis e invejáveis que sejam; conseguimos finalmente ter a real noção do nosso verdadeiro "Eu" (completo) pois é, ao mesmo tempo, social, mental e espiritual na proporção correta, assim sendo, a partir dessa nova consciência elevada, renovada, amplificada, e excelente, conseguimos ter um contato muito maior, mais próximo, mais profundo, e mais verdadeiro, com o próprio Espírito de Deus em nós. E é somente quando passamos a viver plenamente estabelecidos a partir do nosso verdadeiro Eu, que é predominantemente espiritual, é que conseguimos ter a visão totalmente desobstruída para enxergarmos com clareza e compreendermos absolutamente todas as coisas tanto na esfera social, como na mental e também na espiritual, sem sermos seduzidos, enganados, limitados e aprisionados por nenhum dos conceitos, rótulos ou quaisquer outras coisas que estão perturbando e fustigando a alma e a vida das pessoas atualmente; por isso é que Paulo fez questão de acrescentar às Escrituras o texto de 1 Coríntios 2.15, que diz: "Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido.".

O próprio Paulo demonstrou ter exatamente esse entendimento muito bem enraizado sem si mesmo, e isso fica claro na passagem bíblica registrada em Filipenses 3.4-8, na qual ele diz: 

"...Se algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu, segundo o zelo, perseguidor da igreja; segundo a justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor...".

Nesse trecho do texto bíblico, Paulo apresenta todas as "etiquetas", títulos, rótulos e predicados sociais que possuía (circuncidado ao oitavo dia; da linhagem de Israel; da tribo de Benjamim; hebreu; fariseu; perseguidor da igreja; irrepreensível...) mas ele revela que estava plenamente consciente de que aquelas "etiquetas" das quais ele poderia até mesmo se vangloriar, se quisesse, não eram a totalidade do seu Eu, de modo que ele passou a ignorá-las completamente para fins de aperfeiçoamento espiritual, pois se permanecesse apegado a tais coisas nunca conseguiria entrar em unidade com o seu verdadeiro Eu e, por consequência, não seria capaz de encontrar a excelência do conhecimento de Cristo. Por isso ele disse: "Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor...".

Se queremos realmente ter contato com a excelência do conhecimento de Cristo em nós, precisamos parar de edificar, enfeitar e considerar apenas o nosso "Eu social" como se fosse tudo o que somos, e precisamos passar a perceber que nós somos o que somos, além das "etiquetas", somos a semelhança do Criador, somos uma presença triuna; ou seja, simultaneamente, somos corpo, somos mente e somos espírito. 

Viver a partir desse entendimento, desfaz o feitiço do Ego carnal que há em nós, crucifica a nossa carne, e muda absolutamente toda a nossa mentalidade.

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