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Como parar de sofrer? E por que as pessoas sofrem?

 


Eis aí duas perguntas profundas que toda pessoa que trilha o caminho da sabedoria costuma fazer a si mesmo em algum ponto da caminhada. Que bom que você também as fez.

A primeira coisa importante que precisamos esclarecer aqui é: O que é o sofrimento?

O sofrimento é diferente da dor, ele é uma ilusão da nossa mente natural corrompida, e por mais inacreditável que seja, nenhum sofrimento é físico, embora todos possam impactar grandemente o nosso corpo e a nossa vida; porém, a verdade é que todos eles são tão somente mentais; na verdade, sofrimentos são extrapolações desmedidas, exageradas, e até mesmo dramáticas, que a nossa mente faz sobre tudo o que nos aconteceu (ou não) no passado; está (ou não) acontecendo agora, e acontecerá (ou não) no futuro. O sofrimento está repleto de especulações, suposições, expectativas, delírios e devaneios que nos acostumamos a pensar que são reais e normais. Ele existe apenas para se alimentar da nossa vitalidade, nos enfraquecendo; e como a maioria das pessoas não sabe disso acabam se identificando com o sofrimento, ou seja, na mente dos indivíduos o sofrimento se mistura com os pensamentos, sentimentos, e emoções de uma forma tão próxima que as pessoas não conseguem mais discernir o que é sofrimento e o que não é, isso significa que eles deixam que o sofrimento torne-se uma parte central de quem eles acham que são, do seu "eu" social; e muitas vezes, muitas mesmo, esse processo fica se repetindo dentro da mente das pessoas por dias, meses, anos, décadas, e até por toda a vida de muitos, sempre se renovando e retroalimentando pelas mais diversas "causas" e "motivos"; e sem que percebam, o sofrimento se solidifica como uma coluna psicológica, uma espécie de traço da personalidade deles que exerce intensa "gravidade" sobre tudo o que está dentro dessas pessoas. Assim, esse sofrimento cria, na nossa mente, uma tendência de interpretar tudo o que ocorre conosco e ao nosso redor de uma maneira distorcida (muito ou pouco), e negativa, que não nos permite enxergar as coisas, situações, pessoas e circunstâncias da vida de forma "limpa", ou seja, com a devida sobriedade, que é clareza e a lucidez de entendimento e de fé que todo cristão genuíno deve encontrar no próprio espírito e cultivar durante a sua existência. porém, como isso não é comum, o sofrimento se tornou o centro do estilo de vida de bilhões ao redor do planeta.

Ok. Isso dito, podemos nos concentrar na pergunta chave, que é: Porque as pessoas sofrem?

Essa, talvez, seja uma das perguntas mais feitas de todos os tempos, e embora muito já tenha sido dito sobre isso, a resposta genérica para tal questão é bem mais simples do que a maioria supõe. E é a seguinte:

As pessoas sofrem porque não estão conscientes.

Então talvez você pergunte: Como assim não estão conscientes?! 

A maioria absoluta da humanidade "vive" em uma espécie de sono social que os impede de viver na mais plena acepção da palavra, assim, os indivíduos existem como se estivessem mortos, comendo, bebendo, andando, trabalhando, falando, fazendo todo tipo de coisas, mas sem realmente sentir a vida por completo; estão apenas seguindo cegamente as instruções que as vozes, forças e agentes da sociedade dizem que eles devem seguir. Tal como foi observado pelo escritor irlandês Oscar Wilde, que disse certa vez: "Viver é a coisa mais rara do mundo, a maioria das pessoas apenas existe.".  Isso é o que costumo chamar de sono hipnótico da sociedade; e esse é um dos motivos do texto de Efésios 5.14 dizer: "Desperta, ó tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá.". Assim como também é um dos motivos de o apóstolo Paulo ter registrado o texto de Romanos 13.11, no qual está escrito: "E isto digo, conhecendo o tempo, que já é hora de despertarmos do sono...". Porque a verdade é que as pessoas, tanto na sociedade quanto dentro das mais diversas congregações, membros e líderes, não têm a menor ideia do que é o seu verdadeiro ser, o seu espírito, e essa "simples" falta de discernimento é o epicentro de todos os sofrimentos que os indivíduos experimentam durante a sua existência. De fato, eles caminham pela existência sem compreender a essência de quem realmente são, que é exatamente a mesma essência da própria vida e do próprio Deus; por isso está escrito em Gênesis 2.7 o texto que diz que: "...O homem foi feito alma vivente.". Ou seja, o ser humano e a vida não são duas coisas separadas, mas sim uma única coisa; moldada pelo Criador segundo a imagem e semelhança Dele, exatamente como o texto de Gênesis 1.26 declara; está escrito: "E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem; conforme a nossa semelhança...". Lembre-se que Jesus, certa vez, disse o que foi registrado em João 14.6, que é: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida....".

Porém, com a consumação do que a Escritura Sagrada chama de pecado original, o pecado de Adão e Eva; todos os seres humanos perderam completamente a consciência da sua essência vital, que é espiritual, ou seja, as pessoas esqueceram de quem realmente são além daquilo que está diante dos seus próprios "olhos" (sentidos naturais). Assim, tornaram-se totalmente vulneráveis a todos os impulsos, influências, ilusões e artimanhas da parte mais superficial do nosso ser, a nossa mente natural que foi amplamente afetada e corrompida pelos efeitos devastadores do pecado. Essa parte de nós que é a única que as pessoas conhecem sobre si mesmos, e mesmo assim, muito mal; é aquilo que vários sábios chamam de Ego; um inimigo íntimo, oculto, ardiloso e pernicioso que nada mais é do que a mesma coisa que a Escritura Sagrada chama de carne. E ela é a fonte da dormência espiritual que mantém a humanidade constantemente em um estado interior de sofrimento, às vezes brando, outras vezes agressivo; às vezes dissimulado e outras vezes deliberado. Na verdade, o espírito do mundo usa todas as vozes, forças e agentes da sociedade para manter as pessoas em uma espécie de sofrimento inconsciente e constante, que é exatamente aquilo que o poeta e filósofo norte-americano Henry David Thoreau chamou de silencioso desespero, em seu famoso livro "Walden, ou a vida nos bosques".

Dessa forma, todos aqueles que ainda não despertaram para o que realmente são além do seu "eu" psicossocial, ou seja, além daquilo que pensam que são e daquilo que a sociedade diz que são, foram ou serão; estão presos nas garras do próprio Ego carnal, e por não estarem conscientes disso, passarão pela existência navegando em um enorme oceano de sofrimentos dos mais variados tipos, tamanhos, e "sabores". Dessa forma, ficamos presos aos sofrimentos porque tendemos a achar que a vida não está acontecendo da maneira que desejamos, e por causa da nossa inconsciência criamos todo tipo de resistências, ruídos, narrativas e atritos interiores (mentais; emocionais, sentimentais) em relação a tudo na nossa vida, tanto para as "coisas ruins" como também para as "coisas boas".

Mas como podemos ter certeza de que as pessoas estão vivendo de maneira inconsciente?

Em Lucas 23.34 Jesus é mostrado preso à cruz, naquele que foi o momento mais crítico da existência da humanidade sobre a face da terra. E após ter passado por diversos castigos físicos e humilhações, mesmo sendo completamente inocente. Naquele momento de extrema dor e agonia física o Mestre revela que tudo aquilo estava acontecendo por causa da inconsciência da humanidade; Ele disse: "...Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem...". Ora. Qualquer pessoa que não sabe o que está fazendo é alguém que está inconsciente. E qualquer pessoa inconsciente, acabará, em menor ou maior grau, produzindo sofrimento para si mesmo e para os que estiverem ao seu redor, sejam conhecidos ou não; pois o sofrimento é o principal sintoma da inconsciência humana.

Imagine uma criança com um ou dois ano de idade que encontra algo altamente cortante e enferrujado, (ou algo venenoso); tal criança não tem consciência de que o objeto encontrado é algo perigoso, então começa a brincar com ele. Porém, ao ver essa cena, o pai ou a mãe da criança logo tira o objeto cortante das mãos da criança. Então eu pergunto: O que você acha que a criança fará?

Exatamente. Ela começará a chorar imediatamente, porque na visão infantil da criança tal objeto era uma espécie de brinquedo ao qual ela se apegou rapidamente; e ao ser privada de tal objeto lhe parece que está perdendo algo de si mesma (por causa da ação do Ego que há nela), assim, nesse momento, a criança automaticamente começa a sofrer, sem nenhuma necessidade, pois a verdade é que ela não perdeu absolutamente nada; e esse sofrimento se materializa na forma de choro porque essa é a única reação possível para alguém com tão pouca idade; porém como a criança ainda não tem capacidade de discernir com clareza o que ocorre dentro da própria mente, também não tem como se defender da manipulação natural do Ego que há nela. Obviamente, todo esse processo acontece em uma micro fração de segundo, pois é uma reação completamente automática do Ego e já está "codificada", ou seja, programada na "raiz" da mente da criança, como um padrão de comportamento inconsciente cujo objetivo principal é levar o indivíduo ao sofrimento sem que ele se dê conta disso. 

E o que toda essa "mecânica manipulativa" tem a ver conosco?

Infelizmente esse tipo de "programação mental" do Ego não é algo que ocorre apenas com crianças, na verdade, a mente dos adultos acaba desenvolvendo e sofisticando diversos mecanismos egóicos de modo que a maioria absoluta das pessoas na sociedade em que vivemos, independentemente da idade, ainda não se libertou de muitas infantilidades (imaturidades) da mente, de fato, tal como acontece com a mente da criança, a imaturidade na nossa mente também se apega de forma muito rápida a todo tipo de coisas, pessoas, situações, circunstâncias, objetos, fenômenos, sonhos, ambições, promessas, expectativas, e absolutamente tudo o que há na sociedade, de uma forma compulsiva, e às vezes até doentia, só para nos fazer sofrer. E por mais incrível que pareça, a imaturidade mental é uma das características que definem o indivíduo adulto moderno na nossa sociedade; por isso é que, estamos vendo multidões por toda parte se comportando de forma cada vez mais irracional, infantil e menos civilizada. E justamente para nos ensinar a esse respeito, também, é que foi escrito o texto de 1 Coríntios 13.11, que aponta para a importância de conscientemente eliminarmos a imaturidade que é um dos traços mais marcantes da nossa natureza humana; o texto diz: "Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, e raciocinava como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.".  

A meninice, ou a imaturidade, tão comuns nos nossos dias, em quase todos os lugares e pessoas da sociedade moderna, são uma fonte inesgotável de sofrimentos autocriados, ilusórios, automáticos, inconscientes, e replicáveis; portanto, parte do caminho para acabar com o sofrimento que a nossa mente natural causa em nós até pelos motivos mais superficiais e banais é, intencionalmente, identificando e eliminando as sementes e raízes da imaturidade que o Ego plantou e mantém em toda a nossa forma de pensar, sentir, falar e agir com relação a nós mesmos, aos outros ao nosso redor, à sociedade em que vivemos e até ao próprio Deus. Em outras palavras, quanto mais utilizarmos a virtude da maturidade espiritual para tudo o que fazemos, falamos, pensamos e sentimos na vida, mais clareza e lucidez mental teremos, e menos suscetíveis a produzir ou sustentar qualquer tipo de sofrimento, para nós ou para os que estiverem ao nosso redor, seremos. por esse motivo também é que foi escrito o texto de Hebreus 12.15, que diz: "Tendo cuidado de que...nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem."

E por que isso é assim?

Porque, ao contrário do que muitos pensam, a maturidade não é uma qualidade da mente, mas sim do espírito, que é o nosso verdadeiro Eu que existe além, e acima, do nosso "eu" psicossocial, que é o Ego/carne que há em nós; de modo que, para começarmos a cultivar e utilizar a maturidade real precisamos nos aprofundar em conhecer o nosso verdadeiro Eu, o nosso espírito, pois é nessa autoconscientização que encontramos a fonte de todas as virtudes divinas que há em nós, o Espírito de Deus, pois é através do nosso espírito que nos tornamos um com o Espírito do Senhor, por isso o texto de 1 Coríntios 6.17 NVI, diz: "Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele.". Logo, é a partir do nosso verdadeiro Eu que o Espírito Santo emana todas as Suas inspirações que são capazes de nos despertar para interrompermos todos os sofrimentos que inconscientemente, mas voluntariamente, temos hospedado em nós por tanto tempo, sejam eles autocriados ou adotados, assim nos libertamos de toda a ilusão do sofrimento da nossa mente natural (carne/Ego) que está estilhaçando todo o senso de existência individual e coletiva das pessoas na sociedade.

E como seria essa autoconscientização?

Quando começamos, voluntariamente, intencionalmente, a esquadrinhar a nossa "natureza mental"; em outras palavras, quando passamos a observar diligentemente todos os pensamentos, sentimentos e emoções que surgem no nosso interior, assim como todas as "reações", ou seja, as palavras e ações que esses fenômenos internos nos induzem, obrigam ou motivam a produzir; lançamos a sagrada luz da consciência sobre o nosso Ego, algo que, por causa da sua natureza corrompida, e obscura,  quase "vampírica", ele não pode suportar. Assim, ao nos habituarmos a fazer isso, diariamente, passamos a conhecer o "modus operandi", que é a maneira, e as formas, como a nossa carne costuma nos enganar para que sejamos a fonte de nossos próprios sofrimentos, desse modo, com o tempo, nos tornamos livres de todas as influências psicossociais que nos levam a sofrer desnecessariamente. Como foi sabiamente observado pelo conhecido psiquiatra austríaco Viktor Frankl, que disse: 

"Entre um estímulo e a nossa reação a esse estímulo há um espaço. E nesse espaço está o nosso poder de escolhermos nossa resposta. E nessa nossa resposta reside o nosso crescimento e a nossa liberdade.".

E caso você não saiba, o Dr. Frankl percebeu essa verdade observando pessoas que passaram pelos horrores dos campos de concentração, principalmente em Auschwitz, onde ele próprio também foi prisioneiro submetido a todo tipo de provações e privações físicas e mentais, durante a segunda guerra mundial.

E o que isso nos ensina?

Ensina que qualquer pessoa minimamente desperta (consciente) tem a capacidade de, mesmo sob circunstâncias e situações completamente críticas, e até mortais; experimentando todo tipo de dores, torturas e privações físicas, e mentais, que a maldade humana é capaz de conceber, ainda sim tal indivíduo pode enfrentar tudo isso sem qualquer sofrimento no seu interior; e por mais que isso pareça totalmente surreal para muitos, foi exatamente por compreender essa verdade que tantos cristãos, desde os apóstolos até aqueles dos quais a história não faz nenhuma menção, passaram por tantas injustiças, violências, crueldades, torturas, barbaridades, martírios e toda a fúria da sociedade da suas épocas, assim como, foram submetidos a todo ódio do próprio espírito do mundo, mas sempre se mantiveram com uma mente livre de sofrimento; veja o exemplo de Estevão relatado em no livro dos Atos dos Apóstolos, a partir do capítulo 6 verso 8 até o capítulo 7 verso 60. Note que ao ser apedrejado até a morte, Estevão, permanecia com a mente livre de qualquer sofrimento; ele não estava se perguntando porque aquilo estava acontecendo com ele, nem porque Deus não o livrava de seus agressores, nem duvidando da própria fé, nem amaldiçoando as circunstâncias que o levaram até aquele momento. A mente daquele cristão estava totalmente curada das influências do Ego/carne; de tal forma que ele, semelhantemente a Cristo na cruz, disse: "...Senhor, não lhes imputes este pecado.". Estevão sabia que as pessoas ao seu redor estavam agindo sob o jugo tirânico da inconsciência e como tal estariam sempre sofrendo e fazendo os outros sofrerem.

Todo cristão genuíno, aquele(a) que realmente entende a essência e a abrangência da liberdade com que Cristo nos libertou, compreende que pode viver sem o sofrimento, mesmo, e principalmente, nos momentos mais críticos da vida, pois a verdade é que o sofrimento é algo completamente inútil e não precisamos dele para absolutamente nada. O sofrimento não pode existir sem nós, ele precisa da nossa inconsciência e do nosso consentimento para poder permanecer ligado à nossa mente, controlando a nossa vida e nos fazendo infelizes de "mil" maneiras diferentes, mas uma vez que tomamos conhecimento disso nos colocamos no exato ponto no qual as influências, impulsos e todas as manipulações e opressões do Ego/carne começam a perder todo o efeito sobre nós. E essa é uma gloriosa libertação que está inclusa na fala de Jesus quando Ele afirmou o que está escrito no texto de Lucas 4.18-19, que diz: "O Espírito do Senhor é sobre mim, pois me ungiu para...pôr em liberdade os oprimidos...". Como vimos no exemplo da criança citado acima, todo ser humano nasce oprimido pela maneira distorcida com a qual a mente natural funciona e essa opressão é materializada pela produção incessante, compulsiva e massiva de sofrimento a respeito de tudo.

Deixe-me dar um testemunho pessoal que acredito que pode ser útil para exemplificar o que foi dito até aqui.

Durante a maior parte da minha vida eu passei criando e alimentando ondas e mais ondas de sofrimento para mim mesmo, pelos motivos mais diversos e banais que você possa imaginar, de fato, hoje, olhando em retrospecto, nem posso acreditar no quão mal eu tratava a mim mesmo; porém, eu fazia isso porque estava totalmente imerso na inconsciência com a qual a sociedade nos mantém cativos e adormecidos. De fato, durante anos eu permiti que os sofrimentos gerados pelo Ego carnal em mim, que inconscientemente, mas voluntariamente, eu fazia questão de me apegar e cultivar, tivessem o poder de me torturar sempre que queriam, e eu mantinha essa "tortura" às vezes branda e outras vezes intensa, sempre muito bem camuflada, mascarada, e até mesmo protegida, no meu interior, porque eu julgava que ela era parte de mim. Quase todos os dias, a minha mente se debatia com uma constante avalanche de pensamentos, sentimentos e emoções negativas, turbulentas e aleatórias como: 

*Eu não tenho um videogame tão bom quanto o dos meus amigos. Eu gostaria de ter um videogame igual ao deles. (Quando eu era criança e adolescente).

*Eu não gosto do meu emprego; eu queria trabalhar em outra coisa; não foi para isso que eu estudei, por que não consigo um emprego na minha área?

*Com essa idade a minha vida já deveria estar mais desenvolvida; as coisas estão acontecendo muito devagar.

*Eu preciso crescer socialmente. Preciso conquistar os meus objetivos; estou encontrando muitos obstáculos pelo caminho.

*Porque Deus não responde as minhas orações? Será que não tenho fé suficiente? 

*Acho que os meus sonhos não vão se concretizar; preciso me esforçar mais, estou fazendo alguma coisa de errado, estou fazendo tudo errado, onde estou errando? Tem algo errado comigo.

*Eu ainda não encontrei um propósito para a minha vida; todos que conheço já estão trilhando os seus respectivos caminhos.

E muito, muito, mais coisas como essas.

Talvez você ache que todos esses pensamentos que citei podem parecer coisas completamente sem sentido, porém, para mim, à época, eram tempestades duríssimas que eu estava enfrentando sem saber como vencer; eu estava naufragando desesperadamente e silenciosamente. Mas o ponto que, na época, eu não sabia, é que toda aquela produção de sofrimento mental ocorria por causa da inconsciência que era o meu estado natural. Eu (tal como a criança do exemplo que vimos anteriormente) não tinha nenhum conhecimento do Ego em mim, constantemente disparando suas "flechas" inflamadas ou envenenadas, assim eu permanecia totalmente iludido, seduzido e ferido por qualquer impulso e influência dessa parte superficial do meu ser, e isso condicionava toda a minha maneira de pensar, sentir falar e agir. 

Eu não tinha consciência de que vivia preso sob o jugo do meu "eu" mais superficial e social (Ego/carne) e que por isso vivia como que adormecido no sono hipnótico da sociedade, completamente vulnerável às sutilezas e dissimulações da hierarquia dos enganos. Eu não sabia que ninguém tem o poder de me ofender a menos que eu permita (sentindo-me ofendido); eu não sabia que a maioria absoluta dos sonhos que eu tanto desejava (e me sacrificava para) realizar não eram realmente meus, mas haviam sido implantados em mim desde muito cedo pelas vozes, forças e agentes da sociedade apenas para me manter, a vida toda, correndo em círculos. Eu não sabia que o consumismo que eu inconscientemente idolatrava, praticava e havia adotado como estilo de vida, não é realmente capaz de tornar a vida de ninguém realmente completa. Eu não sabia que o maior peso que eu carregava (e parecia ficar cada vez mais pesado a cada ano) era exatamente esse Ego cada vez mais inflado em si mesmo. Eu não sabia que nós sofremos porque, na nossa inconsciência, somos doutrinados desde a infância a acreditar cegamente em tudo o que o espírito do mundo usa as mais variadas vozes e agentes sociais para dizer. Eu não sabia que a vida que eu idealizava para mim era justamente aquilo que estava criando todas as barreiras, dificuldades e resistências internas, assim como estava me impedindo de ver e encontrar a minha vida perfeita. Por causa de todas essas coisas e muitas outras é que eu causava sofrimento completamente desnecessário para mim mesmo, exatamente como multidões, milhares, milhões, e até bilhões de pessoas tanto na sociedade quanto dentro das mais diversas congregações também estão fazendo já há muito tempo, sem perceber.

Mas está escrito: "E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.". Portanto, quando a luz do evangelho de Cristo revelou essa minha inconsciência eu comecei a despertar, e, na mesma medida, comecei a me desvencilhar das minhas, antes, tão preciosas ilusões, fantasias, sonhos e delírios sociais aos quais estava tão apegado e identificado, assim, os sofrimentos que haviam em mim perderam muito da intensidade, atração e influência que tinham sobre a minha mente; e boa parte deles, simplesmente se desfez por completo. Foi como se um grande peso, que eu já não suportava mais carregar para toda parte, fosse retirado dos meus ombros; e foi exatamente isso o que aconteceu, pois foi por isso também que Jesus disse o que está registrado no texto de Mateus 11.28, a saber: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.". E pela primeira vez na vida eu estava vendo claramente o inimigo oculto que se passava por mim enquanto me mantinha "adormecido", o Ego, a carne, a minha mente natural e superficial corrompida, assim como todo o peso extra e desnecessário que eu carregava ao me identificar e me apegar aos sofrimentos que esse inimigo gerava em mim.

Agora é a sua vez

Tente reconhecer como é que você tem gerado sofrimento para si mesmo(a), assim como em quais ocasiões isso tem acontecido. Você tem dado muito valor para a opinião dos outros a seu respeito? Tem comparado a sua vida com a das pessoas ao seu redor? Tem tentado agradar todas as pessoas? Tem construído expectativas irreais para a sua própria vida? Não consegue aceitar as coisas como elas são? Está tentando alcançar todos os seus sonhos sociais cegamente? Tem se sacrificado para alcançar o maior número de tesouros, troféus e símbolos sociais que puder? Está lutando para acumular o máximo de influência, ou fama, ou fortuna, ou status, ou poder, ou autoridade que puder? Tem acreditado no que cada pensamento que surge na sua mente diz, principalmente nas coisas negativas?  Tem percebido que suas emoções estão fora de controle? Tem notado a sua mente acelerada? Há muitas coisas lutando por atenção dentro da sua cabeça?

Não tenha pressa. Tente olhar para dentro da sua mente (por mais caótica que ela pareça) da maneira mais consciente que conseguir; e não se preocupe, pois isso não é uma tarefa acadêmica, ou seja, não é um teste de aptidão ou uma prova, logo, você não tem como falhar aqui. Seja gentil consigo mesmo(a), não se critique, não se julgue, nem se condene; apenas observe toda a falação e cacofonia dentro da sua cabeça o melhor que você conseguir. Tente estar atento(a) para o que quer que apareça, uma lembrança, um pensamento, um sentimento ou uma emoção (boa ou ruim), um trauma, uma projeção, um sonho, um vício, um desejo; qualquer coisa é bem vinda neste "espaço" luminoso de consciência pura que você começou a cultivar em si mesmo(a). Apenas permaneça observando por algum tempo, tente se manter distante de qualquer coisa que surgir, e saiba que todas as coisas que surgirem na sua mente vão tentar arrastar você para algum "lugar", vão tentar fazer com que você sinta algo ou pense em algo de uma maneira sutilmente negativa; mas não se preocupe com isso, e se um pensamento, sentimento ou emoção arrastar você com ele, não se apegue a ele, deixe-o ir sem você, simplesmente tome consciência disso e volte a observar a sua mente.

E por que fazer isso?

Porque com o tempo você vai perceber, com cada vez mais clareza, que você não é a mesma coisa que todos os fenômenos internos da sua mente, que geram os sofrimentos que você experimenta; na verdade, você é totalmente independente de tudo isso, mas nunca nos demos conta disso porque não fomos ensinados a investigar o nosso próprio interior, mas veja o que a Escritura Sagrada diz em Provérbios 25.2b: "...A glória dos reis é tudo investigar.". Assim, aplicando a essência desse versículo a tudo na nossa vida, percebemos a necessidade e a importância de investigar a nós mesmos, primeiramente, antes de investigar qualquer outra coisa, pois só assim seremos realmente capazes de "ver", claramente, tudo aquilo que nos afeta e nos faz sofrer, então poderemos nos defender e desprender das ilusões da carne/Ego que nos mantém presos e fortalecem os sofrimentos que nós mesmo criamos usando tanto os fenômenos interiores quanto os eventos exteriores a nós como base. Dessa maneira, nos tornamos cada vez mais lúcidos mentalmente, e finalmente teremos condições de ajudar outras pessoas a fazer o mesmo; por isso também foi escrito o texto de Mateus 7.5, que diz: "Tira primeiro a trave do teu olho e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão.".

Você perceberá, com cada vez mais clareza, que você não é a sua mente, você se dará conta de que a mente é apenas uma parte menor de quem você realmente é; o seu verdadeiro "Eu" é o espírito; assim sendo, tudo o que surge na sua mente em decorrência, ou não, das coisas que acontecem na sua vida não tem qualquer poder de fazer você sofrer, a menos que você se deixe arrastar ou seduzir pelo jugo dos sofrimentos; mas, também para nos alertar sobre isso é que o texto de Gálatas 5.1 diz: "Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.". Quando observamos a nossa própria mente natural por tempo suficiente (tempo esse que é variável de uma pessoa para outra) nos tornamos conscientes, e por consequência, livres, de todos os sofrimentos que, antes, criávamos ou adotávamos; assim, o Ego em nós se dissolve, ou seja, a nossa carne, mente natural superficial e corrompida, é crucificada, exatamente como o texto de Gálatas 5.24 revela que os verdadeiros cristãos fazem, ao dizer: "E os que são de Cristo crucificaram a carne...". Desse modo, a nossa mente, sem as influências e interferências da carne/Ego, passa a refletir todos os padrões de pensamento (discernimento), sentimentos, emoções, palavras e ações demonstrados por Jesus; e essa é uma das características que definem os cristãos genuínos, por isso também foi escrito o texto de 1 Coríntios 2.16b, que diz: "...Mas nós temos a mente de Cristo.". De fato, a mente de Cristo, a nossa verdadeira mente espiritual, criada para reger todo o nosso comportamento mental e físico, é aquela que despertou da inconsciência e se desvencilhou da submissão natural e compulsiva aos sofrimentos psicossociais auto criados e auto impostos do Ego/carne que há em nós.

Todos os cristãos legítimos compreenderam isso e simplesmente pararam de sofrer. Isso não significa dizer que pararam de enfrentar dores, dificuldades, perseguições, injustiças, maldades e todo tipo de "tempestades" da vida, muito pelo contrário; muitos passaram até a se deparar mais com tais aflições, pois como foi escrito em João 16.33b: "...No mundo tereis aflições...", porém, a grande diferença, a diferença crucial, é que tais aflições (dores, adversidades, tormentas e etc...) já não conseguiam mais desencadear na mente deles nenhuma reação negativa ou venenosa de sofrimento; e foi por esse motivo, também, que o apóstolo Paulo escreveu o texto de 2 Coríntios 4.8a, que diz: "Em tudo somos atribulados, mas não angustiados...". Paulo sabia que a dor e as adversidades são parte da vida humana mortal, não há nada que possamos fazer quanto a isso, mas o sofrimento que gera tanta angústia nas pessoas é uma anomalia causada pelo pecado original, uma tentação a qual nos entregamos sem questionar, um desvio da mente natural que desde a infância aprendemos a aceitar como parte de nós.

Em diversos momentos da nossa existência seremos expostos a dor, vamos nos machucar, ficar doentes, ter uma desilusão amorosa, perderemos o emprego, passaremos pela falência, enfrentaremos escassez, nossos planos falharam, perderemos entes queridos, seremos rejeitados, perseguidos, ofendidos, e muito mais. Porém, para aqueles que despertaram da inconsciência e dissolveram o Ego, nenhuma dessas dificuldades será acompanhada por qualquer tipo de sofrimento, porque estão vivendo apoiados no seu verdadeiro e luminoso eu espiritual que tem contato direto e íntimo com o Espírito do próprio Deus. 

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