"Contentai-vos com o vosso soldo." Lucas 3.14
Como somos criaturas parcialmente sociais, temos, desde a infância, sido lentamente envenenados pela sociedade da qual fazemos parte. E um desses venenos que é injetado no "organismo" das pessoas é o descontentamento.
Todos os dias somos chamados, de alguma maneira, por uma ou mais vozes sociais, a nos sentirmos descontentes com algo ou alguma área da nossa existência, de modo que o descontentamento se tornou um estado existencial constante para bilhões de pessoas ao redor do planeta; de fato, grande parte da humanidade parece ter esquecido o que viver contente significa, e, por consequência têm sido privados dos benefícios físicos e psicológicos que essa maravilhosa virtude pode proporcionar na mente e na vida diária de qualquer um que se dedique a cultivá-la.
Muitas pessoas, e cada vez mais, escolhem a profissão que vão seguir ou a ocupação que vão desempenhar por muito tempo na sociedade tomando como base para essa decisão unicamente a quantidade de dinheiro que vão ganhar ou fazer, apenas para ficarem profundamente descontentes quando estiverem ganhando ou recebendo tal quantia; isso tem acontecido com médicos, engenheiros, advogados, professores, vendedores, políticos, jogadores de futebol, pastores, e com quase todos os indivíduos que fazem parte da sociedade atual. O mais sábio seria que escolhessem sua fonte de renda, seja uma profissão ou uma ocupação, com base no contentamento que sentirão desempenhando tal função.
Quando lemos a parte da passagem de Lucas 3.14 que diz: "Contentai-vos com o vosso soldo", tal direcionamento espiritual está apontando para um ensinamento muito mais amplo do que percebemos inicialmente.
E que ensinamento é esse?
O entendimento de que as pessoas têm se deixado ficar descontentes com a própria vida, ainda que estejam vivendo de forma nababesca (extremamente luxuosa e ostentadora).
Veja. O soldo é a quantia de dinheiro recebida como pagamento, ou seja, é o salário que alguém recebe, ou até mesmo, qualquer renda que alguém produza. Sendo assim, ele é a base e a sustentação de todo o estilo de vida, assim como, dos padrões de consumo de bilhões de pessoas. Porém, o problema que tem se tornado cada vez mais agudo na sociedade atual é o fato de que as multidões, tanto aqueles cujo salário ou renda é menor, quanto os que recebem grandes quantias mensalmente, estão repletos de desejos sociais, ambições pessoais, profissionais e financeiras, sonhos de consumo, expectativas megalomaníacas e uma vasta gama de outros impulsos que eles julgam ser motivadores para o desenvolvimento de sua condição social de vida, mas que na verdade são grandes e pontiagudos espinhos que vão ferir a alma e sufocar toda semente de fé que haja dentro de tais indivíduos. Como foi escrito em Mateus 13.22, que diz: "E o que foi semeado entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera.".
Dessa forma, inebriados e seduzidos por tais cuidados do mundo e sedução das riquezas, que nada mais são do que seus próprios desejos, sonhos, ambições e expectativas sociais; uma multidão cada vez maior tem se tornado profundamente descontente com a sua situação de vida (independente de qual seja), pois estão sempre, freneticamente, em busca de mais de absolutamente tudo o que a sociedade tem a oferecer, mais conforto, mais praticidade, mais tecnologia, mais luxo, mais beleza, mais esportividade, mais posses, mais status e muitas outras coisas semelhantes que, em excesso, convertem-se automaticamente em fardos psicossociais a serem carregados. O que essas pessoas não se dão conta é que quanto mais desejos, ambições, sonhos de consumo e expectativas sociais elas cultivarem dentro de si, maior será a quantidade de dinheiro que tais coisas exigirão que eles consigam para alcançar e sustentar seu padrão de vida, e de consumo, cada vez mais elevado, logo, como o salário/pagamento/renda (soldo) que geralmente estão recebendo está abaixo do que eles julgam necessário para construir e custear todos esses sonhos, expectativas e ambições de consumo, tal salário, ou qualquer tipo de pagamento semelhante, torna-se em uma espécie de símbolo psicossocial do seu descontentamento por não estarem sendo capazes de realizar tudo o que a mente deles almeja adquirir com aquilo que recebem.
Quem nunca ouviu, ou falou, alguma frase semelhante a essas:
*Ainda não comprei aquela nova televisão "8k" porque ganho pouco;
*Ainda não troquei de carro porque meu salário é baixo;
*Quando eu for promovido e passar a receber um salário maior, vou comprar uma casa de praia;
*Ainda não mudei de apartamento porque não estão me pagando o suficiente;
*Vou dividir o valor desse novo celular (pode ser qualquer outra compra desnecessária) em várias parcelas para poder encaixar no meu orçamento mensal.
*Quando a minha empresa estiver gerando mais lucro vou fazer "isso", comprar "aquilo", visitar tal lugar, e etc...
Note que o problema aqui não é o consumo em si, mas sim o fato de boa parte das pessoas estar tão viciada, compulsivamente, em consumir todo tipo de desejos sociais e realizar os "seus" mais variados sonhos sem sentido, que a quantidade de dinheiro que recebem, ou fazem, mensalmente, fica sempre pequena em comparação com o tanto de coisas e experiências superficiais e desnecessárias que eles estão sempre acumulando e desejando acumular. E é por causa de estarem presos nesse carrossel, que o descontentamento com o que recebem como salário, pagamento ou renda tende a continuar aumentando, mesmo que já estejam ganhando muito bem.
Tais pessoas não percebem, mas esse descontentamento crônico que nutrem a respeito do "soldo" que recebem é um dos sintomas mais claros do que a Escritura Sagrada chama de amor ao dinheiro, pois não importa quanto recebam, nunca estarão contentes. Por isso, também, foi escrito em Eclesiastes 5.10 o texto que diz: "Quem amar o dinheiro nuca se fartará de dinheiro; e quem amar a abundância nunca se fartará de renda...". Precisamos compreender que uma coisa é sermos conscientes de que estamos fazendo ou recebendo uma quantidade de dinheiro inferior ao que é realmente necessário para suprir nossas necessidades sociais mais básicas, e outra coisa completamente diferente é acharmos que não estamos ganhando o suficiente porque nosso salário ou renda não nos permite obter e acumular todo tipo de supérfluos que nossa mente e a sociedade insistem em dizer que nos farão felizes.
Todo cristão(ã) verdadeiro(a) sabe a diferença entre essas duas situações, e foi por esse motivo que o apóstolo Paulo escreveu em 1 Timóteo 6.8 o texto que diz: "Tendo, porém, sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes.". Qualquer pessoa que esteja tentando alcançar determinado patamar social, assim como, algum nível salarial ou de renda, específico, na expectativa de, a partir de tal patamar, finalmente encontrar contentamento com o seu padrão de vida e de consumo, jamais será alguém contente; pois seus desejos sociais nunca pararão de se renovar e multiplicar, de modo que sua renda, ou seu salário, sempre estará aquém daquilo que o Ego de tal pessoa, e a sociedade, dizem ser necessário para obter e realizar o seus sonhos. Sonhos estes que são constituídos basicamente por um grande amontoado de todo tipo de supérfluos. De fato, a maioria absoluta das pessoas não necessita de mais da metade do que desejam possuir, alcançar e realizar; mas infelizmente, se deixam convencer de que só serão felizes se realizarem, comprarem e acumulares tudo o que a sua mente natural condicionada pela sociedade, que é o seu Ego/carne, disser que devem perseguir.
Cristãos legítimos sabem que o contentamento não é algo que possa ser encontrado em algum lugar, ou coisa, externa; nenhum bem, posse ou aquisição jamais poderá produzir contentamento real, ou seja, de longa duração e autossustentável, em nós. Pois a verdade é que não são as coisas da vida que tem de nos fazer contente, somos nós é que temos de estar contentes com as coisas da vida.
E como fazemos isso?
Compreendendo que, por mais clichê que possa parecer, a virtude do contentamento é algo que deve ser descoberto internamente, pois na maioria das pessoas ela está totalmente soterrada e esmagada sob toneladas de desejos, sonhos, ambições, expectativas e todo tipo de cuidados, vaidades, sociais que são os cuidados do mundo e a sedução das riquezas, que nunca param de aumentar de tamanho, intensidade e preço.
Quando a Escritura Sagrada nos exorta a estarmos contentes com o nosso soldo (pagamento, salário, renda), estamos sendo ensinados a manter a nossa situação social de vida, assim como nosso padrão de consumo em um nível que possa ser atendido e sustentado pela quantidade de dinheiro que fazemos ou recebemos, sem nos deixar iludir e inebriar pelos cuidados e seduções sociais que todas as vozes ao nosso redor, inclusive dentro de várias congregações, dizem ser as fontes da felicidade. Qualquer pessoa realmente contente compreende que o contentamento independe da condição social ou financeira; e foi também por isso que o apóstolo Paulo, homem que mantinha a própria mente sempre em estado de contentamento, em qualquer situação e sob quaisquer circunstâncias, escreveu o texto registrado em Filipenses 4.12, que diz: "Sei estar abatido e sei também ter abundância; em toda maneira e em todas as coisas, estou instruído, tanto a ter fartura como a ter fome, tanto a ter abundância como a ter necessidade.".
O ensinamento de Deus dado através de Paulo nesse versículo é o seguinte:
"Estou sempre contente com a quantidade de dinheiro que tenho a minha disposição, seja pouco ou seja muito, minha mente sempre estará contente, pois aprendi a viver apenas com o que me é realmente necessário".
Qualquer pessoa, eu, você, ou qualquer indivíduo, só conseguirá viver de maneira realmente plena se, assim como Paulo, encontrar primeiro o contentamento dentro de si mesmo(a), e cultivá-lo; porque a partir daí, será irrelevante se receberem um salário ou produzirem uma renda baixa ou alta, pois toda a sua vida estará perfeitamente balanceada pelo contentamento.
Então quer dizer que as pessoas não podem querer progredir na carreira para ganhar um salário maior ou produzir uma renda mais alta?
É claro que podem, na verdade, elas devem fazer isso, se tiverem ou criarem as oportunidades para tal evolução de maneira consciente; porém, não devem devotar a vida a isso alucinadamente, sendo dominados(as) por seus próprios desejos, ambições, expectativas e toda sorte de sonhos sociais e de consumo como a sociedade está constantemente nos incitando a fazer. Devemos buscar qualquer tipo de evolução e desenvolvimento social, profissional e financeiro, partindo sempre de uma posição mental inspirada pelo Espírito, ou seja, uma posição mental de contentamento, e não uma posição de apego aos desejos sociais insaciáveis como é o padrão da humanidade atualmente.
Embora pareça algo completamente absurdo para a maioria das pessoas na sociedade, é perfeitamente possível estarmos contentes com o nosso salário, ou renda, e com o estilo de vida e de consumo que ele nos proporciona, mesmo que seja modesto, e mesmo assim trabalharmos com sabedoria e paciência para a evolução equilibrada das nossas finanças e do nosso patrimônio social. A diferença é que se partirmos de uma posição mental de contentamento não seremos dominados e iludidos pelas artimanhas sociais do espírito do mundo, e estaremos finalmente livres do veneno social do descontentamento que é o carrossel interminável dos desejos, sonhos e ambições do Ego humano que está fustigando as multidões de todas as classes da atual coletividade.
Parabéns pelo texto. Dá para ver claramente que é ensinado e inspirado pelo Espírito Santo em tudo o que escreve. Descobri este blogue e parece que farei muitas visitas a ele daqui em diante para aprender a caminhar mais como Deus quer que caminhemos. Agradeço a Deus pela sua vida, pelo o dom que lhe deu.
ResponderExcluirUm abraço de irmão em Jesus 🙂
Olá Óscar! 😃
ExcluirObrigado por deixar o seu comentário aqui. Fico contente em saber que você gostou o texto. Sinta-se sempre à vontade neste blog.
Que a magnífica luz de Cristo te dê cada vez mais consciência, clareza e lucidez de pensamento e de fé.
Grande abraço.💖👍