"No mundo tereis aflições..." João 16.33

"No mundo tereis aflições..." João 16.33

O que são essas aflições?

São as tempestades da vida.

E por que saber disso é importante?

Porque nos permite compreender algo ainda mais importante e que fará toda a diferença quando grandes momentos de dificuldade estiverem diante de nós.

E o que seria isso?

O entendimento de que há dois tipos de tempestades com as quais absolutamente todas as pessoas terão de lidar durante a sua existência.

E quais são elas?

As tempestades que podem ser evitadas e aquelas que devem ser atravessadas.

O problema é que as pessoas fazem uma grande confusão entre esses dois tipos de tempestade, na verdade, a maioria dos indivíduos, mesmo dentro das mais diversas congregações, membros e até alguns líderes, costumam acreditar que todas as tempestades da vida podem ser evitadas, eles não percebem que pensar assim é um erro, um condicionamento mental do Ego, e por pensar dessa maneira equivocada tais pessoas passam pela vida tentando evitar todas as tempestades que existem, e até algumas que nem existem; porém, como não se dão conta de que uma das regras mais rígidas da nossa existência é justamente a inevitabilidade de algumas tempestades (aflições) de modo que essas não podem ser evitadas, mas devem necessariamente ser atravessadas; tais indivíduos, quando confrontados por essas tempestades inevitáveis, acabam perdidos em um labirinto mental de medo, desespero, frustração, incredulidade, e à deriva em um oceano de dúvidas sem propósito, do tipo:

* Por que isso está acontecendo?

* Por que Deus não me livra disso?

* Por que Deus permitiu que algo assim acontecesse comigo?

* Será que Deus não se importa comigo?

* O que eu fiz para merecer isso?

Há muitas outras dúvidas sem sentido que se erguem na mente de qualquer um que não tenha compreendido que em alguns momentos da vida o único caminho para fora de uma tempestade é passando pelo meio dela, da mesma maneira que em certos momentos o único caminho até o ponto que Deus deseja que estejamos também é através de uma, ou mais, tempestades. De fato, certa vez Jesus e os discípulos foram pegos por uma grande tempestade, imediatamente, por não compreenderem que podiam navegar em meio àquela tormenta para chegar ao outro lado, os discípulos entraram em desespero e começaram a ser dominados pelas dúvidas chegando até mesmo a pensar que Jesus não se importava que aquela tempestade os matasse; como está escrito em Marcos 4.37-38, que diz: "E levantou-se grande temporal de vento, e subiam as ondas por cima do barco, de maneira que já se enchia de água. E ele (Jesus) estava na popa dormindo sobre uma almofada; e despertaram-no, dizendo-lhe: Mestre, não te importa que pereçamos?". Jesus achava que os discípulos já tinham entendido que podiam usar a fé para enfrentar uma tempestade, passando por dentro dela, por isso Ele disse o que ficou registrado em Marcos 4.40, a saber: "Porque sois tão tímidos? Ainda não tendes fé?". Mas os discípulos se deixaram intimidar pelas circunstâncias adversas que se ergueram ao redor deles; assim como acontece com muitos de nós, pois deixamos que nossa fé seja intimidade por uma tempestade inevitável da vida, simplesmente porque ficamos perdidos mentalmente achando que não deveríamos estar passando por tal temporal.

Todo sábio compreende que algumas aflições (tempestades) são parte inseparável da nossa experiência existencial na terra, e elas sempre se materializam na forma de desafios, alguns mais fracos ou de menor duração, mas outros extremamente violentos ou de maior duração. 

A travessia por essas tempestades é fácil?

Não.

É algo confortável?

Definitivamente não.

É desejável?

De jeito nenhum.

Mas é assim que funciona, e quanto antes compreendermos isso melhor e mais positiva será nossa resposta quando um momento como esse estiver diante de nós.

Mas o que são essas tempestades (aflições)? Deixe-me tentar ser mais claro.

Na verdade, todos nós as conhecemos, elas estão ao nosso redor, na forma de uma perda de emprego ou fonte de renda; dívidas e problemas financeiros; crises econômicas; catástrofes naturais; epidemias locais ou pandemias globais; perseguições e injustiças; problemas de saúde da própria pessoa ou de pessoas próximas; perda de entes queridos; violência social; guerras e outros conflitos; dificuldades ou colapso do casamento; e assim por diante. A lista é praticamente infinita, mas creio que você já compreendeu do que estamos tratando aqui.

O fato é que se formos sábios, poderemos viver de modo a, com nosso pensamento, palavras, procedimento e estilo de vida, consigamos evitar que grande parte dessas aflições recaiam sobre nós; porém, algumas vezes o controle simplesmente não estará em nossas mãos; não podemos impedir, por exemplo, que uma crise qualquer afete nosso emprego ou fonte de renda, há muitas variáveis interagindo no mundo de hoje; não podemos impedir que uma pandemia surja "do nada" e afete todo o planeta, você entende? Precisamos estar conscientes disso, porque consciência produz clareza e lucidez de pensamento e de fé.

Quando Jesus, em João 16.33, diz: "No mundo tereis aflições"; a verdade atemporal que Ele está revelando para nós é a seguinte: Algumas tempestades virão e não há nada que vocês possam fazer a respeito para detê-las.

O ponto crucial para o qual precisamos estar atentos é o desenvolvimento do discernimento para sermos capazes de perceber claramente quais as tempestades nós podemos evitar e quais nós devemos atravessar, sejam tais tempestades internas ou externas; porque essa simples, mas poderosa, compreensão já nos colocará em uma "posição" privilegiada, na medida em que seremos capazes de, com consciência e lucidez de pensamento e de fé, trabalhar ativamente para evitar as tempestades "evitáveis", porém, não nos desgastaremos tentando em vão impedir que as tempestades inevitáveis aconteçam. Nós não as desejamos, nem procuramos por elas, mas quando uma delas surgir na nossa vida, estaremos prontos, e a atravessaremos; sem drama, sem dúvidas e sem desespero; mas remando firmemente com a fé.

A boa notícia é que uma vez que a nossa fé, a nossa mente e o nosso espírito estão cientes de que algumas tempestades terão de ser necessariamente atravessadas, paramos de desperdiçar nosso tempo, forças e recursos tentando evitá-las e passamos a concentrar toda a nossa atenção e fé em fazer a travessia da melhor maneira possível. A passagem bíblica registrada em Mateus 26.39 mostra justamente esse processo acontecendo com Jesus, quando relata: "E, indo um pouco adiante, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu pai, se for possível, passa de mim esse cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres.".

Jesus estava plenamente consciente de que na sua missão amorosa para resgatar a humanidade, precisaria necessariamente atravessar algumas tempestades; e naquele momento relatado em Mateus 26.39 Ele estava diante da "mãe de todas as tempestades", que seria a sua prisão, martírio e morte na cruz; por isso, a essência da oração feita pelo Mestre é: "Meu pai, se for possível desvie essa tempestade de mim; mas se for necessário, eu a atravessarei.".

Esse entendimento demonstrado por Jesus, é o mesmo que também foi demonstrado por tantos outros exemplos bíblicos de fé, pessoas, homens e mulheres que se viram no meio das mais severas "tempestades"; indivíduos como Paulo, Estevão, a rainha Ester, Davi, o profeta Daniel e tantos outros(as) pessoas célebres cuja travessia por diversas "tempestades" foi registrada nas Escrituras Sagradas; porém eles não são os únicos, muitos cristãos(ãs) anônimos(as) compartilharam desse entendimento através dos séculos para continuar caminhando inabalavelmente toda vez que a vida os envolvia em uma tormenta que estava fora do controle deles e não podia ser evitada. Lembre-se do que está escrito no Salmo 125.1, que diz: "Os que confiam no Senhor serão como o monte Sião que não se abala...".

O texto registrado em Hebreus 11.34-37 fala justamente destes indivíduos quando diz: "Apagaram a força do fogo, escaparam do fio da espada, da fraqueza tiraram força, na batalha se esforçaram, puseram em fugida os exércitos dos estranhos. As mulheres receberam, pela ressureição, os seus mortos; uns foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição; e outros experimentaram escárnio e açoites, e até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos a fio de espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabra, desamparados, aflitos e maltratados.".

Novamente faço uso das palavras de Jesus quando Ele disse: "No mundo tereis aflições"; ou seja, algumas tempestades virão e não poderão ser evitadas, mas terão de ser atravessadas. E o Mestre nos deu esse valioso ensinamento antecipadamente para que o nosso espírito esteja pronto no momento em que uma dessas tempestades aflitivas surgirem na nossa vida.

Cada ser humano terá de lidar com algumas tempestades inevitáveis durante o seu tempo na terra, não há como fugir disso. Alguns terão de lidar com a falência, outros terão de lidar com a perda do emprego, há aqueles que terão de lidar com algum tratamento de saúde; turbulência no casamento, e assim por diante. O ponto de inflexão aqui é o fato de que quando compreendemos e aceitamos a inevitabilidade de algumas tempestades, pois viver é como navegar, ou seja, enquanto estamos seguido para o nosso porto seguro definitivo necessariamente passaremos por alguns altos e baixos; sempre que uma dessas tempestades surgirem na rota em que estamos "navegando", partiremos para fazer o caminho de travessia através dela, mesmo em meio à violência dos relâmpagos, o rugido dos trovões, a força dos ventos, o peso da chuva e a fúria das ondas; porque no final das contas esse caminho no meio da tormenta é o caminho da fé viva, esse é o caminho pelo qual apenas os que realmente acreditam em Jesus são capazes de navegar, pois como o próprio Cristo disse em João 14.6: "...Eu sou o caminho...",

Se tivermos bom ânimo e não deixarmos que as tempestades inevitáveis da vida nos amedrontem e intimidem a nossa fé, como têm feito com bilhões de indivíduos por toda parte, mesmo dentro das mais diversas congregações; seremos capazes de atravessar, e vencer, todas as tormentas que o mundo lançar sobre nós; pois nosso caminho através delas é o próprio Cristo; por isso Ele mesmo falou as palavras que ficaram registradas na segunda parte do texto de João 16.33, que diz: "... Mas tende bom ânimo; eu venci o mundo.". Ou seja, a essência desse trecho do versículo é: "Continuem navegando sem esmorecer, porque Eu atravessei e venci todas as tempestades inevitáveis do mundo, e, em mim, vocês também as vencerão.". Se captarmos plenamente esse ensinamento de que algumas tormentas que o mundo lançará sobre nós só podem ser vencidas quando atravessadas, seremos capazes de fazer essa travessia de fé com o espírito inabalável e a mente serena, cruzando as tempestades, algumas mais rapidamente e outras mais lentamente, mas com a certeza de que elas não conseguirão nos fazer naufragar, diferentemente do que está acontecendo com uma multidão cada vez maior de indivíduos que, inconscientemente, estão sendo consumidos por elas.

Se você compreender esse entendimento, ele transformará você em um "mestre(a) das tempestades"; e nenhuma das aflições do mundo jamais serão capazes de subjugar a sua mente nem a sua vida.