"Voz do que clama no deserto..." Isaías 40.3
Quem é essa voz do que clama no deserto atualmente? O que é esse deserto? Como escapamos dele?
A sociedade na qual estamos inseridos parece, à primeira vista, com um gigantesco oásis repleto de delícias de todos os tipos, tamanhos, formatos e sabores; assim como cheio de luzes brilhantes, chamativas e coloridas, sons de todos os timbres e volumes, e, perfumes inebriantes das mais variadas fragrâncias. Um lugar capaz de proporcionar, das mais diversas maneiras, com que as pessoas consigam encontrar e realizar os sonhos sociais mais reluzentes, que possuem, assim como dar vazão a toda sorte de vaidades e paixões que o ser humano é capaz de produzir em si mesmo.
Tal lugar parece ser repleto de alegria, felicidade, satisfação e realização, na medida em que os indivíduos lutam durante toda a sua existência para conseguir acumular e mostrar toda espécie de vitórias e tesouros sociais que o senso comum e o status quo dizem que devem ser perseguidos e conquistados. A cada dia que passa as pessoas estão direcionando uma quantidade cada vez maior de holofotes e câmeras sobre si mesmas (literal e figurativamente), na esperança de serem reconhecidas pelas multidões de alguma maneira que os diferencie dos demais, e não estão percebendo que isso está arruinando a forma como experienciam a própria vida.
E como se isso não bastasse, há outro grande problema.
Todo esse panorama de oásis social aparentemente perfeito que as pessoas lutam tanto para criar e manter sobre si mesmas não passa de uma fantasia colossal, uma miríade de ilusões, uma miragem terrivelmente arquitetada para esconder a verdadeira natureza árida e desértica que a sociedade realmente tem. Cada vez mais, como naquele filme Matrix de 1999, a realidade social que nossos olhos estão vendo não corresponde ao que a sociedade de fato é; todos os nossos sentidos naturais foram corrompidos, e têm sido ludibriados diariamente para que não sejamos capazes de perceber essa farsa titânica que se desenrola bem diante de nós e está mantendo a humanidade prisioneira e escrava de si mesma, ou seja, do próprio Ego, como marionetes inconscientes do espírito do mundo. Multidões vagando aleatoriamente em um ambiente social que foi desenvolvido e programado, nos mínimos detalhes, para tornar cada um de nós em indivíduos cada vez mais antagônicos, radicais, competitivos, infelizes, cansados, viciados, ávidos, tristes, esquecidos, distraídos, ansiosos, iludidos, doentes, ambiciosos, maldosos, e muito mais; embora nada disso seja feito de maneira aberta, toda essa deformação humana provocada pela forma como a sociedade deturpa a percepção das pessoas se desenvolve dissimuladamente sob um pretexto de busca pelo progresso, pelo sucesso, e pela felicidade. Veja o exemplo das redes sociais; como elas foram supostamente criadas para conectar as pessoas e tornar o mundo em um lugar mais humano e feliz, mas está devastando a vida de bilhões tornando-os em indivíduos cada vez mais antissociais e disfuncionais interna e externamente.
Essa deformação da percepção provocada pela grande miragem social que está estabelecida em nosso meio tem feito com que a maioria absoluta dessa grande massa humana que habita à sociedade esteja sempre sacrificando a si mesma, sobremaneira, das mais diversas formas, ou seja, fisicamente, profissionalmente, financeiramente, emocionalmente, sentimentalmente, pessoalmente, familiarmente, e até, espiritualmente; na tentativa cada vez mais dolorosa e desesperada de sustentar as aparências da parte da miragem que lhe cabe, parte essa que os indivíduos chamam de "minha vida social", e, vida essa que, com o passar do tempo vai ficando mais e mais pesada até chegar ao ponto em que se torne insuportável e insustentável; esse é o momento em que o estilo de vida com a aparência de oásis entra em colapso tragando as pessoas, como "areia movediça", para o meio de uma espécie de "nada existencial"; a saúde se deteriora, o casamento é destruído, o amor esfria, os vícios se fortalecem, a falência acontece, as dívidas saem completamente do controle, as finanças naufragam, a esperança é sufocada, e assim por diante; este é o momento em que alguns deles são capazes de ver, mas não de entender, que não estavam vivendo em um oásis, mas sim no meio de um deserto durante todo esse tempo, porém, como não conseguem compreender a natureza perniciosa da "miragem", não são capazes de se desvencilhar dela e continuam agindo de acordo com o que a sociedade espera deles, o que continua gerando e alimentando cada vez mais dores e sofrimentos no interior e no estilo de vida que estão vivendo.
Você se lembra daquela passagem bíblica relatada em Mateus 4,8-9, na qual o espírito do mundo levou Jesus para um determinado lugar e mostrou toda a glória social que estava sob seu controle, oferecendo-a a Cristo; como foi escrito: "Novamente, o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles. E disse-lhe: Tudo isso te darei se, prostrado, me adorares.". Porém, Jesus sabia que toda aquela aparência gloriosa que o espírito do mundo colocou diante Dele, não era nada além de uma miragem de proporções colossais e de alcance global, a mesma miragem que ainda nos dias atuais está aniquilando multidões que se permitem seduzir pelas fantasias e sonhos ilusórios da sociedade e passam toda a sua existência correndo atrás de algo que não está realmente lá. Por exemplo: Atualmente, todos os indivíduos inseridos no contexto social estão sempre correndo atrás, e tentando alcançar, a felicidade, entretanto, a grande miragem está sempre fazendo com que eles procurem nos lugares aonde a felicidade não está, nunca esteve, e jamais estará; ou seja, segundo os padrões da sociedade atual, a felicidade deve ser sempre procurada no dinheiro, na fortuna, na fama, na influência, no poder, no status, no glamour, no consumismo, no prazer, na "beleza", nas vitórias, nas realizações, e em tantas outras vaidades superficiais semelhantes, de modo que as pessoas lutam cegamente para alcançar e obter tais vaidades só para perceber que a felicidade não está nelas e recomeçar a busca perseguindo outras vaidade maiores. Muitos estão vivendo assim há décadas, e esse é apenas um exemplo (há milhões de outros) de como a miragem social distorce a percepção, a vida, e até a fé dos indivíduos, deixando-os completamente "insanos".
Voltando à passagem de Mateus 4.8-9, Jesus conseguiu ver através das ilusões e fantasias da grande miragem que o espírito do mundo o mostrou; Cristo estava plenamente consciente de que toda aquela gloriosa visão social dos reinos do mundo, embora sejam extremamente sedutoras, apelativas, e desesperadamente desejadas pelo Ego humano; não passam de aparências vazias em si mesmas, ou como a própria Escritura Sagrada as chama, vanglórias. Eis um dos motivos de o apóstolo Paulo, inspirado divinamente pelo Espírito Santo, ter ensinado aos verdadeiros cristãos o que foi registado em Gálatas 5.26, que diz: "Não sejamos cobiçosos de vanglórias...". Em outras palavras o que ele estava ensinando é: Não se apeguem às aparências das glórias sociais, pois são enganosas e podem destruir vocês.
E como fazer para não nos apegarmos às aparências das vanglórias da grande miragem social?
Todo cristão verdadeiro, como Paulo, sabe que a única maneira de escapar da influência e das distorções ilusórias da grande miragem social que nos rodeia é ouvindo a voz daquele que clama no deserto.
E o que isso significa nos dias atuais?
Como foi dito anteriormente nesse texto, a verdadeira face da sociedade atual, a face que está escondida por detrás da miragem com aparência de oásis, é como um deserto em que as pessoas vagam aflitas, inquietas, sobrecarregadas, insatisfeitas e infelizes, porém, sempre fingindo que tudo está maravilhosamente bem; fingindo tanto para os outros quanto para si mesmos, e sendo cada vez mais atormentados por tal fingimento. Porém, em meio a esse deserto desolador disfarçado de oásis, em meio a essa quantidade inimaginável de ilusões que sustentam essa farsa milenar, colossal e global, há algo que não pode ser tocado por tal miragem, nem manipulado pelo espírito do mundo, de fato, é algo que está no mundo, mas não pertence ao mundo, algo puro; algo que clama constantemente chamando todos quantos estejam sendo abatidos e consumidos pela voracidade das pressões sociais que a miragem exerce sobre a humanidade; algo que aponta o caminho para fora do deserto do desespero, da depressão, da infelicidade...; algo que deseja nos guiar para longe da turbulência, do peso, das dores, das angústias e dos sofrimentos provocados por esse terrível "Siroco" (ventos quentes e violentos que criam gigantescas tempestades de areia no deserto do Saara).
E o que é isso afinal?
O Santo Evangelho de Cristo.
Nos dias atuais, o Evangelho de Cristo, o verdadeiro evangelho, clama em meio ao deserto das vaidades, paixões e vanglórias humanas que nós chamamos de sociedade, de modo que a voz do que clama é a voz do Evangelho, ou seja, a voz do próprio Deus, misericordioso e todo-poderoso dizendo exatamente o que Jesus revelou na passagem relatada em Mateus 11.28, que diz: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.". Em outras palavras, a voz do Santo Evangelho de Cristo é o próprio Pai dizendo: Ouçam-me e vocês serão libertos da grande miragem social; ouçam-me e seus olhos serão abertos para a Verdade que está além do alcance das ilusões; ouçam-me e vocês finalmente escaparão do deserto das vaidades, paixões e vanglórias do Ego; ouçam-me e vocês encontrarão sabedoria; cura, paz de espírito (serenidade), amor, justiça, satisfação e salvação.
O estilo de vida baseado e controlado pela miragem ilusória no deserto das vaidades e vanglórias é um estilo aparentemente frutuoso, mas que na realidade é totalmente infrutífero; porém, a voz do Evangelho de Cristo, que é a voz do próprio Jesus, é o chamado à sanidade em meio ao caos, interior e exterior, produzido por essa miragem monumental que chamamos de sociedade atual.
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