"...Todo homem seja... tardio para se irar..." Tiago 1.19
Por que atualmente bilhões de pessoas têm sido tão rápidas para se irar? E, por que cada vez mais indivíduos na sociedade tem tido tanta dificuldade para impedir serem dominados e dirigidos por essa ira?
Para ser direto nas respostas, devo dizer que isso tem acontecido porque as pessoas, tanto na sociedade quanto muitos dentro de congregações, estão se sentido ofendidos facilmente com quase tudo o que têm visto e ouvido, seja em relação as questões da própria vida, como também no que se refere a tudo o que as cerca, ou seja, as outras pessoas, as circunstâncias, as situações e as coisas que estão ao redor.
A ira é um "relâmpago psicológico" produzido quando a mente humana está repleta de "nuvens" pesadas, densas e escuras, que nada mais são do que as influências que a sociedade exerce e despertam no interior das pessoas (todo tipo de pensamentos, sentimentos e emoções, confusos, distorcidos e sem controle). Porém, quando a mente está clara e tranquila como um céu limpo de primavera; mesmo em situações desafiadoras, tais relâmpagos mentais não têm como acontecer.
Se os indivíduos tão somente entendessem que não precisam se deixar ofender pela maioria absoluta das provocações, afrontas, agressões e ataques que são direcionados a eles, automaticamente estariam dissipando tais "nuvens" de dentro da própria mente; ou seja, estariam retirando o "alimento" que nutre e fortalece a ira que há na natureza humana; natureza essa que a Escritura Sagrada chama de Carne, mas que também pode ser entendida como Ego. Assim, sem permitir que algo, muitas vezes banal, crie um sentimento de ofensa pessoal em nosso interior, a ira torna-se incapaz de se acender dentro de nós e perde o seu poder de bloquear a nossa razão e nos manipular ao seu bel-prazer. Essa é a forma simples, porém eficaz, com a qual os verdadeiros cristãos eliminam a ira e seus efeitos da vida deles.
Na celebre passagem registrada em Mateus 5.39, Jesus fala algo extremamente importante a esse respeito; está escrito: "Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra..."; em outras palavras, a essência do que o Mestre falou é a seguinte: Não se ofendam com os ataques, provocações, mentiras, insultos, agressões, violências ou qualquer tipo de maldades que os outros lancem sobre vocês; ou seja, não criem resistências internas a essas maldades (...não resistais ao mal...), mas se alguém atacar, ou até mesmo atingir, a sua honra de alguma maneira (...se qualquer lhe ferir a face direita...) não considere isso como uma ofensa pessoal para si; em outras palavras, não revide, mas responda de maneira mansa e racional (...oferece-lhe também a outra...).
Somente alguém com consciência, clareza e lucidez de pensamento, e de fé, é capaz de não se ofender com os ataques, "pequenos" ou "grandes", físicos ou virtuais, que são direcionados a si, de modo a não serem abalados nem atingidos por tais coisas, que são, na maioria das vezes, produtos do Ego, da mente natural imatura e inconsciente de indivíduos dominados pelo estilo de vida e de "pensamento" do espírito do mundo.
Se observarmos atentamente, perceberemos que a nossa mente natural, ou seja, a nossa Carne, nosso Ego, é mestre na "fina arte" de se sentir ofendido mesmo com coisas que, absolutamente, não nos diz qualquer respeito, ou com coisas, palavras, atos ou situações completamente alheias a nossa vida. Atualmente os indivíduos se ofendem por qualquer bobagem sem sentido que escutem ou vejam; sejam tais bobagens direcionadas a eles ou não, e ao se deixar ofender, estão inconscientemente, porém voluntariamente, dando permissão para que a ira que há na Carne deles se acenda, entre em cena, e tome o controle de seus pensamentos, palavras e ações.
As pessoas se ofendem muito rapidamente quando ouvem algo que julgam ter sido direcionadas a elas (e muitas vezes nem foi); se ofendem quando o time para o qual elas torcem perde uma partida; se ofendem quando ouvem comentários contrários às suas preferências pessoais, políticas, religiosas e sociais; se ofendem quando ouvem uma opinião diferente; se ofendem quando alguém lhes diz não; se ofendem quando a vida não acontece exatamente da maneira que elas desejam que seja; se ofendem com o sucesso alheio; se ofendem consigo mesmos quando acham que fracassaram em algo; se ofendem quando não são bem atendidos em alguma loja, banco ou restaurante; se ofendem no trânsito; se ofendem quando não são reconhecidos; se ofendem quando não recebem uma promoção profissional; se ofendem, se ofendem, e se ofendem; a lista de coisas com as quais os indivíduos se ofendem está cada dia maior.
Como tais pessoas não possuem consciência, clareza e lucidez de pensamento, não percebem que cada vez que se ofendem é como se estivessem acendendo um fósforo em um container repleto de pólvora, ou retirado o pino de segurança de uma granada; de modo que o resultado disso pode ser, e geralmente é, desastroso, tanto para a própria pessoa, despertando e alimentando pensamentos, sentimentos, emoções nocivas, ou seja, todo tipo de reações temperamentais; quanto para alguém ao seu redor, por causa das palavras e ações intempestivas e inconsequentes produzidas pelos pensamentos, sentimentos e emoções nocivas que se erguem dentro deles. A propósito, essa é uma das "mecânicas sociais" preferidas do Ego humano.
E qual é o problema disso?
O problema é que a ira só conhece um único "idioma", a violência, seja tal violência, corporal, verbal/virtual, ou psicológica, de modo que qualquer pessoa irada, para dar vazão à sua ira, também será violenta de alguma maneira, tornando-se em um potencial causador de todo tipo de confusões e até de tragédias irreparáveis.
E por que isso é tão ruim?
Porque uma vez que alguém, ao se sentir rapidamente ofendido por qualquer coisa, banal ou séria, com que se depare no seu cotidiano, dá permissão para que a ira "entre em cena"; tal ira literalmente vai cegar seu "hospedeiro" e dominará as palavras e ações desse "hospedeiro" fazendo-o(a) reagir como um relâmpago, furioso e incontrolável; é exatamente nesse momento que muitas loucuras são ditas ou feitas, tragédias acontecem, relacionamentos são destruídos, pessoas são feridas, vidas são ceifadas, e todo tipo de caos é gerado; por indivíduos que, mesmo que por poucos instantes, perderam o controle da própria vida para a ira que inconscientemente, mas às vezes voluntariamente, insistem em cultivar em algum lugar dentro de si. Quando a ira entra em cena, não há mais o indivíduo e a ira, pois pelo período que a ira durar ela assimila o indivíduo que passa a ser um com ela.
Nestes momentos a pessoa é "possuída" pela ira e entra em uma espécie de estado mental de frenesi que só termina quando algum tipo de violência é cometida; ou seja, a ira só volta para sua canto mental obscuro após induzir o indivíduo irado a socar a face de alguém (física ou figurativamente); xingar, gritar, escrever um comentário ácido e agressivo em algum lugar; gravar um vídeo falando algumas "verdades" que alguém supostamente precisa ouvir; e assim por diante.
Como se tudo isso já não fosse terrivelmente ruim, há mais um problema grave com a ira, pois uma vez que ela é uma reação da nossa natureza humana; natureza essa que é animal e decaída, e muitas pessoas têm dado vazão a ira por tanto tempo, às vezes desde a infância, que essa ira se tornou familiar para tais pessoas de modo que pensam, equivocadamente, que ela é apenas mais um traço da personalidade deles, ou seja, muitos indivíduos, homens e mulheres, acreditam que se fizerem algo para extinguir tal ira, estarão, de alguma maneira, eliminando uma parte importante de quem eles são, mas nada está mais distante da verdade do esse pensamento. A ira é sim uma característica, um traço de personalidade, mas não é deles, mas sim do Ego/carne que se passa por eles sem que percebam; eis porque é tão importante para qualquer um que deseje viver em plena liberdade matar o Ego, ou, crucificar a carne, como está registrado em Gálatas 5.24, que diz: "E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.".
A ira é como um "relâmpago mental" produzido pelo Ego, e muitas pessoas têm tentado combater essa ira dentro de si, mas sem sucesso, porque ignoram o fato de que tal ira nada mais é do que uma consequência de algo que está ocorrendo neles de maneira completamente inconsciente, que é essa predisposição quase absoluta que o Ego em nós possui para se ofender, instintiva e instantaneamente, por qualquer "motivo", principalmente os mais banais e sem sentido, ou até sem motivo algum. Tentar combater a ira sem perceber, reconhecer e tratar essa disposição a nos sentirmos ofendidos é como tentar apagar um incêndio soprando apenas a fumaça produzida pelo fogo enquanto deixamos as labaredas livres para agir queimando tudo o que tocam.
No momento em que você percebe que a ira é apenas uma reação instintiva e animal causada toda vez que nos sentimos pessoalmente ofendidos de alguma maneira, (ou melhor dizendo, quando o Ego em nós se sente ofendido de alguma maneira), lançamos um pouco de luz sobre todo esse processo obscuro que ocorre dentro da nossa mente, assim nos tornamos capazes de ver com clareza que a suposta ofensa e a reação que ela causa não são uma coisa só, mas sim duas separadas, que o Ego em nós faz questão de unir para nos enganar; dessa forma conseguimos interferir conscientemente; retardando qualquer reação que seja provocada por palavras, ações ou qualquer tipo de ataques, até mesmo físicos, direcionados a nós. Em outras palavras, ganhamos real controle sobre nossos reflexos de reagir a qualquer tipo de afronta, ao contrário da maioria que é controlada por tais reflexos durante toda a vida; e isso nos dá poder para escolher não reagir ou, em alguns casos, abrandar a nossa reação. Quando você compreende que ao não se sentir ofendido você se torna superior a ira e o poder de decidir como agir ou falar nessas ocasiões sai das "mãos" dela e passa para as suas mãos, esse é um momento de pura libertação.
Uma vez que você experimente essa libertação, o Ego em você ficará mais fraco; ele não desistirá, continuará tentando você para que se ofenda e permita que a ira entre em cena, mas a sua maneira de ver as coisas já não será mais segundo a perspectiva do Ego, mas sim da perspectiva de consciência do espírito, que é algo que está além do Ego. Por isso você continuará praticando o hábito de não se permitir ofender pelas tolices e imaturidades físicas ou virtuais direcionadas a você, porque é isso que tais ofensas são na maioria absoluta das vezes. De fato, quando surgirem momentos em que as pessoas tentem agredir, diminuir ou abalar você de qualquer maneira, você já não verá tais ocasiões como afrontas pessoais terríveis à sua honra, mas sim como possibilidades preciosas de se erguer conscientemente acima do "seu" Ego/carne ofendido; e nesse ponto não há revides violentos, não há reações intempestivas, não há sensação de ser vítima de injustiças; há apenas paz de espírito e pensamentos, sentimentos, emoções, palavras e ações equilibradas produzindo respostas racionais e apaziguadoras.
Quanto antes você compreender essa mecânica da ira e conseguir percebê-la em ação na sua mente, mais rápido você começará a se libertar disso. Não é algo que acontece de uma hora para outra, para a maioria das pessoas, mas a simples percepção de que uma ofensa, a ira, e a reação, não são a mesma coisa, mostra que há um espaço mental entre elas no qual você pode interferir conscientemente, e isso já ilumina todo o processo, e é o suficiente para gradativamente aumentar esse "espaço" fazendo com que seja cada vez mais difícil você se ofender, mesmo com coisas realmente sérias; isso por sua vez, faz com que a ira seja cada vez mais tardia para entrar em cena, e isso a enfraquecerá até que ela seja completamente dominada e eliminada, assim como o Ego que a produz.
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