“Bem
aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.” Mateus 5.9
Por que os pacificadores serão chamados filhos de Deus?
Em um ambiente social como o que vivemos, cada vez
mais dividido, cada vez mais polarizado, cada vez mais intolerante, cada vez mais barulhento, cada vez
mais competitivo, cada vez mais nervoso e cada vez mais animal e selvagem (na pior
acepção das palavras), tudo o que as pessoas têm feito é criar todo tipo de
conflitos uns contra os outros e contra si mesmos; conflitos econômicos,
sociais, políticos, filosóficos, teológicos, religiosos, desportivos e muitos outros.
Os indivíduos na sociedade e em muitas congregações
têm se separado e subdividido em toda sorte de grupos e facções, sem perceber,
ou sem se importar, com o fato de que esse comportamento será a ruína não só
deles como também de toda a sociedade; pois como foi escrito em Mateus 12.25: "Todo reino dividido contra si mesmo é devastado; e toda cidade, ou casa, dividida contra si mesma não subsistirá."; e essa é justamente a intenção do espírito do mundo, "diluir" tanto a sociedade que ela se torne insustentável em si mesma e entre em colapso.
E como ele tem feito isso?
Dividindo a sociedade em grupo e subgrupos opostos, cada vez mais ferozes e deixando que tais grupos batalhem e guerreiem entre si, pelo controle da sociedade, com toda a maldade, violência, intransigência e indiferença que há no espírito humano. Assim surgiram e ainda surgem verdadeiras multidões de grupos, associações, comunidades, denominações, agremiações, corporações, empresas, partidos, torcidas e tantas outras instituições; todas tentando, de alguma forma, vencer e aniquilar as demais; e como não pode deixar de ser, por causa da mentalidade facciosa que os membros e líderes de tais organizações possuem, uma guerra social teve início e se mantém em curso entre eles atualmente. Tais pessoas não sabem, e não fazem a mínima ideia do que a paz realmente é, embora muitos deles afirmem que tudo o que estão fazendo seja em prol de que a sociedade viva em paz. Inconscientemente, essas pessoas têm sido adeptas do lema latino "Si Vis pacem, para bellum", que traduzido significa: "Se desejas a paz, prepara-te para a guerra." Essa é a máxima daqueles que desejam impor uma "paz" à força sobre outras pessoas.
Todo cristão genuíno sabe que pensamentos como o que está retratado nessa máxima latina não fazem nenhum sentido, eles compreendem que a verdadeira paz não pode ser gerada pela guerra ou por nenhum tipo de confronto social de maior ou menor intensidade; a paz autêntica só pode ser gerada pela própria paz, assim como uma maçã só pode ser gerada pela semente dela mesma.
Uma sociedade formada por pessoas que acreditam que a paz vem através de confrontos e batalhas, de classes, políticas, sociais, religiosas, desportivas, e outras, nunca será uma sociedade realmente saudável e pacífica, pelo contrário, sempre será polarizada, e doente, ainda que essa doença social, crônica, esteja camuflada por camadas e mais camadas de aparências, ilusões e dissimulações. Da mesma forma uma sociedade assim jamais será forte e jamais será humana (na melhor acepção da palavra), ao contrário, será terrivelmente competitiva, animalesca e selvagem; porque as várias e profundas dissensões, diferenças e desavenças que as pessoas e seus grupos criam e alimentam entre si nunca deixarão que eles vivam em harmonia para benefício de todos.
Da maneira que essas pessoas pensam, sempre haverá um grupo, um partido, uma religião, uma denominação, uma agremiação, uma empresa e etc..., querendo ter mais poder social, político, econômico, jurídico, financeiro, espiritual, do que os demais, e desejando ostentar maior influência, autoridade e relevância do que o seu próximo, e embora não percebam, pois estão completamente cegos pela multidão das próprias ambições; todo esse comportamento social facciosos que demonstram é, na verdade, uma espécie de maldição milimetricamente arquitetada pelo espírito do mundo para alimentar o Ego dos indivíduos e aprisionar as pessoas em uma guerra de Egos sem fim, e sem sentido, cujo único objetivo é produzir todo tipo de mazelas sociais, misérias mentais, e aberrações espirituais sobre a humanidade; de modo que pouco a pouco tais pessoas acabarão perturbando e destruindo uns aos outros, assim como a si mesmos, pois como foi escrito em Tiago 3.16 "Porque, onde há inveja e espírito faccioso, aí há perturbação e toda obra perversa.".
Há democracias naufragando no mundo simplesmente porque os grupos políticos que as formam se recusam a cultivar uma abordagem pacífica uns com os outros; repúblicas estão sendo profundamente abaladas e pervertidas porque os poderes constitucionais que deveriam funcionar em harmonia, e igualdade de importância, ficaram loucos e querem ser superiores aos demais; há empresas falindo porque existe vários atritos entre os diversos departamentos dela; há congregações e denominações sendo estilhaçadas de dentro pra fora porque formaram-se facções egocêntricas dentro delas, cada qual querendo honrar a si mesmos, o próprio ventre, em detrimento do bem comum; há religiões caindo em completo descrédito porque permitem que as divergências que há entre seus líderes e membros sejam superiores ao amor que deveria ser o vínculo único e indivisível entre eles.
Não há nada de errado (e não é pecado) discordar da opinião, da filosofia, das convicções, da religião, da ideologia política, da visão de mundo, das preferências pessoais de alguém, o erro e o pecado acontecem quando deixamos que essas discordâncias criem animosidade, barreiras e uma separação tão profunda, e tão grande, que só possa ser resolvida através da força e da violência física, psicológica, jurídica, financeira, religiosa, política, ou outras, por meio de contendas, confrontos, afrontas, provocações, reações intempestivas, insensatez e tantas coisas semelhantes que geram tantas outras "guerras" sociais.
O espírito do mundo sempre dirá a todos nós, todos os dias: "Escolha um lado! E ataque o outro! Ele dirá: Você tem que escolher entre a direita e a esquerda! Escolha entre capitalismo ou socialismo! Tem que escolher entre "vermelho e preto" ou "preto e branco"! Tem de escolher entre ciência ou religião! Tem que escolher entre esse ou aquele partido! Tem de escolher entre essa ou aquela tradição espiritual! Tem de escolher entre uma ou outra congregação! Tem de escolher entre esse ou aquele líder! Tome uma posição! Não seja covarde! Você não tem fé? Entre na luta! Não seja passivo(a)!". Ele sabe que ninguém quer ser visto como um(a) pessoa socialmente passiva, covarde, sem fé, então os indivíduos se permitem escolher um lado, e quando fazem tal escolha, começam a ser doutrinados e condicionados para serem transformados em mais uma peça dessa monstruosa engrenagem, eles "vestem a camisa" do lado que escolheram, erguem e balançam as bandeiras que passaram a defender, identificam-se profundamente com o lado que escolheram, se apegam a esse maniqueísmo e acabam deliberadamente tornando-se radicais e militantes que dizem e pregam defender valores essenciais para todos, mas que na verdade desejam apenas ter poder e autoridade para se impor sobre os outros e ferir todos aqueles que discordem deles.
Mas o que significa maniqueísmo?
Significa esse pensamento extremo, polarizado, deturpado, e abominável, que o espírito do mundo, perniciosamente, projetou e inseriu no Ego da humanidade, esse pensamento que divide as pessoas em facções que acreditam cegamente, cada qual ser o único Bem, enquanto que todos os outros que não façam parte do mesmo grupo são o Mal absoluto. Esse pensamento monstruoso foi implantado na raça humana justamente para fazer com que os homens, e os povos, gerassem todo tipo de batalhas, contendas, e guerras entre si (algo que tem funcionado muitíssimo durante toda a nossa história); e isso acontece tanto em âmbito pessoal (indivíduo contra indivíduo), como também chega a alcançar até mesmo o âmbito global (nação contra nação). Eis abaixo alguns exemplos.
Tais pessoas pensam e dizem com orgulho:
* Eu sou da direita, ou, eu sou da esquerda: Como se ela, e os seus, fossem o bem absoluto e o outro lado fosse o mal definitivo.
* Eu sou dessa religião: Como se tal religião fosse a superior a todas as demais e as outras não tivessem qualquer valor.
* Eu sou capitalista, ou, eu sou socialista: Como se o modelo econômico que escolheram fosse a solução definitiva para todas as mazelas da sociedade. Porém, sem perceber que o problema da sociedade não está no modelo da economia, mas sim na corrupção interior e milenar que existe dentro do "Homem" e que contaminará e perverterá qualquer modelo social e econômico tornando-o uma espécie de distopia.
* Eu sou desse time: Como se fossem mais importantes do que os que torcem para outros times.
* Eu sou dessa denominação: Como se eles fossem os únicos filhos de Deus que caminham sobre a face da terra e todas as outras denominações não passasse de um bando de impostores.
* Eu pertenço a raça superior: Como se os demais povos não tivessem o direito de existir.
* Eu sou desse partido: Como se dos outros partidos jamais pudesse surgir nada de bom, útil ou aproveitável para a coletividade.
* Eu sigo a esse líder: Como se os demais líderes não tivessem capacidade de direcionar outras pessoas.
* Eu sou santo: Como se o resto da humanidade fosse uma multidão de pecadores que não podem mais ser alcançados, redimidos e transformados pela Graça magnífica do Altíssimo Todo-Poderoso.
E assim por diante.
Em absolutamente todas as áreas de atuação das pessoas na sociedade. Uns sempre se colocam como o bem e posicionam todos os outros como o mal, o problema é que cada vez mais pessoas e grupos fazem isso e o resultado desse pensamento distorcido são as anomalias como as batalhas, contendas e guerras sem sentido e intermináveis; desde desavenças entre vizinhos, passando por batalhas congregacionais, conflitos teológicos e duelos políticos, até verdadeiros massacres entre as nações (holocausto e bombas nucleares são prova histórica disso, mas não são os únicos, infelizmente há uma quantidade incontável de exemplos terríveis).
Enquanto existir esse pensamento faccioso maniqueísta espalhado na sociedade, tal sociedade não será capaz de amadurecer adequadamente para o benefício verdadeiro de todos, cada qual respeitando o seu próximo. Tudo o que conseguirão fazer em uma sociedade assim é colocar "remendos novos" sobre suas velhas mazelas, escondendo suas antigas chagas sociais e abrindo novas feridas que produzirão mais divisões. Enquanto as pessoas não compreenderem que apenas o amor ao próximo, e a paz decorrente desse amor, são capazes de curar as feridas sociais que persistem pelo tempo e pela história, por mais profundas que sejam, assim como, impedir que novas feridas sejam abertas, jamais se libertarão desse maniqueísmo e passarão pela vida lutando contra tudo e contra todos. Enquanto não forem capazes de amar seus adversários e ter paz com eles, mesmo que eles queiram a guerra, serão sempre apenas escravos do próprio Ego, marionetes nas mãos de alguém, feridos e mutilados impiedosamente nas garras do espírito do mundo.
Por causa desse maniqueísmo guerras "santas" e cruzadas foram travadas, pessoas foram arrastadas para a fogueira, ou lançadas às feras como espetáculo, e muitíssimas outras atrocidades que nem tenho coragem de mencionar foram cometidas; da mesma forma, por causa desse mesmo pensamento faccioso pessoas comportam-se como animais que atacam em bandos, torcedores agridem-se mutuamente e até matam seus semelhantes, assim como militantes políticos e radicais religiosos estão prontos para cometer todo tipo de atos insensatos e maldosos sem perceber que esse comportamento nada mais é do que um dos tentáculos sombrios do próprio caos. Como foi sabiamente pontuado pelo filósofo norte americano Ralph Waldo Emerson, ao dizer que: "A Turba (multidão facciosa) é o homem rebaixando a si mesmo, voluntariamente, à natureza da besta.".
Esse maniqueísmo faccioso também é o tipo de mentalidade que faz as pessoas agirem como o fariseu que justificava a si mesmo diante de Deus citado em Lucas 18.9-14, e como os três homens que ignoraram o indivíduo que estava em necessidade citado na parábola do bom samaritano Lucas 10.25-37.
Esse é um panorama de como grande parte das pessoas estão interagindo na sociedade e em muitas congregações, homens e mulheres que estão fazendo muito esforço e vários sacrifícios, mas no fundo, vivem constantemente insatisfeitos e infelizes, sem saber o motivo. Porém, há algumas pessoas que têm se recusado, consciente e intencionalmente, a participar de toda essa movimentação facciosa; sim, os cristãos genuínos; homens e mulheres sem Ego (que crucificaram a própria carne), com a mente mansa, assim como com o espírito em paz, e o coração misericordioso transbordando de amor, exatamente como foi ensinado em Colossenses 3.12, que diz: "Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade...".
Tais cristãos verdadeiros comportam-se de maneira oposta àquela demonstrada pelos demais indivíduos na sociedade, ou seja, os cristãos possuem a mente e o coração pacífico, logo, todos os atos e palavras que produzem são sempre dessa mesma natureza, eis o motivo pelo qual todo cristão genuíno também é conhecido como um pacificador, pois a nosso respeito foi escrito em colossenses 3.15: "E a paz de Deus, para a qual fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações...". O essência da palavra pacificador significa ser um pacifista, ou seja, uma pessoa que ama a paz e vive em paz tanto consigo mesmo como com os outros ao redor.
Note que Colossenses 3.15 afirma que os cristãos legítimos foram chamados em "um corpo", pela paz que há neles; isso significa que a paz interior (a paz de Cristo) que possuem e o maior vínculo da unidade entre eles, de modo que entre tais pessoas não há qualquer vestígio de pensamento faccioso ou polarização, logo, também não há qualquer batalha, disputa ou guerra entre aqueles que realmente estão em Cristo; diferentemente do que acontece com os pseudo-cristãos e com as demais pessoas na sociedade.
De fato, uma vez que alguém compreende a verdadeira essência do cristianismo (das palavras e dos ensinamentos de Jesus) todas as possíveis diferenças, divergências, e desavenças sociais que tal pessoa tenha contra outros indivíduos, congregações ou grupos sociais diversos simplesmente se desfazem, de modo que já não podem mais ser motivo de animosidade, agressividade, intolerância, violência, indiferença e ódio na mente e no coração dos que estão na luz. Semelhantemente, todos os confrontos e conflitos produzidos pelos rótulos sociais do Ego são dissolvidos dentro do espírito cristão por causa do efeito apaziguador do Espírito de Deus que habita, e é um, com o espírito deles, como 1Coríntios 6.17 revela, quando diz: "Mas o que se ajunta com o senhor é um mesmo espírito.". E como sabemos muito bem, o Espírito Santo é o Espírito da paz, por esse motivo também Ele transfigurou-se como pomba ao descer do céu sobre Jesus durante o Seu batismo com João Batista; tal como a Escritura em João 1.32 mostra, quando diz: "E João testificou, dizendo: Eu vi o Espírito descer do céu como uma pomba e repousar sobre ele.". Não por acaso a pomba é considerada como um símbolo da paz.
E o que isso significa?
Significa que para os que estão na Luz da paz do Espírito de Deus não há mais ideologias, nem grupos, nem partidos, nem torcidas, nem qualquer tipo de facções sociais, religiosas, esportivas, políticas, geográficas, culturais ou qualquer outras; pois todo pensamento faccioso, individualista e separador é extinto pela ação dessa poderosa paz que há neles, e tudo o que resta é a união e a unidade pura e plena entre as pessoas com seu próximo de modo que tornam-se como que um único organismo ressoando em harmonia, tal como registrado em Colossenses 3.11, que diz: "Onde não há grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo em todos.".
A paz que há na essência do verdadeiro cristianismo é algo tão puro que simplesmente desintegra toda perturbação e semente facciosa que tente penetrar na mente dos verdadeiros cristãos, é por isso que eles conseguem permanecer sempre em unidade uns com os outros e em uma postura sempre mansa (pacifica) com relação aos mundanos e pseudo-cristãos que tentam atacá-los. Este é o motivo de serem chamados de filhos de Deus, pois comportam-se legitimamente como filhos da Paz do Espírito.
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