Vamos falar um pouco sobre cristianismo e minimalismo.
Atualmente alguns indivíduos estão compreendendo uma verdade que a sociedade faz de tudo para ocultar; a verdade de que viver constantemente desejando e tentando adquirir, possuir, demonstrar e acumular os objetos e posses considerados como tesouros sociais acaba criando muito ruído e peso desnecessário na mente, no estilo de vida e no cotidiano de qualquer um; distraindo homens e mulheres para que percam de vista e não coloquem a atenção no que realmente importa. As pessoas que estão entendendo isso são conhecidas como minimalistas e têm se dedicado a um estilo de vida "alternativo" cujo objetivo, segundo o pastor, escritor de best-seller e minimalista, Joshua Becker, não é apenas possuir menos coisas, mas também, e principalmente, aliviar a vida das pessoas para que elas possam ser e fazer muito mais com os seus recursos.
Mas por que estou falando isso?
Porque o que os minimalistas estão compreendendo desde que esse movimento surgiu é algo que os cristãos verdadeiros já foram ensinados, e praticam, há mais de dois mil anos; exatamente o que a Palavra de Deus já revelava quando foi escrito: "Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam." Mateus 6.19. Infelizmente, há muitos membros e líderes de congregações que foram seduzidos pelo estilo de vida reluzente, consumista, ostentador, extravagante e confuso que o espírito do mundo padronizou na sociedade, e se afastaram do modelo baseado na simplicidade, que a Escritura Sagrada ensina como sendo o melhor caminho para uma vida significativa, leve, completa e realizada; por isso também foi registrada a preocupação do apóstolo Paulo em 2 Coríntios 11.3, que diz: "Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos e se apartem da simplicidade que já em Cristo.".
Por muitos séculos o verdadeiro cristianismo tem pregado um estilo de vida menos confuso, menos exagerado, mais eficiente e mais sustentável, sobre todos os aspectos; um estilo versátil no qual as pessoas não sejam escravizadas pelo acúmulo de suas próprias posses materiais, nem pelos desejos de adquiri-las; pois cristãos sabem que o que determina a realização e a plenitude de uma vida não é a quantidade de posses que ela tem; como Lucas 12.15 deixa claro ao dizer: “A vida de qualquer não consiste na abundância do que possui.”.
O cristianismo genuíno nos convida a experimentar e usufruir de um estilo de vida moderado, mais intencional, mais consciente, racional, mais simples e mais significativo; ou seja, verdadeiramente abundante; no qual as distrações materiais e mentais, que têm assolado e consumido a humanidade, são reduzidas para abrir espaços em nossa mente e em nossa casa, para que possamos nos dedicar à busca do que realmente tem importância, e valor, para nós, assim como, para gerar tempo de qualidade para cultivarmos as virtudes que nos fortalecem e edificam, interna e externamente, tanto como indivíduos quanto como comunidade e como igreja de Cristo. Virtudes como fé, sabedoria, equidade, serenidade, caridade, generosidade, contribuição e muitas outras.
O modelo de vida cristã sempre foi aquele que busca minimizar, e portanto, aliviar, o peso psicossocial que cada pessoa precisa carregar durante a vida, e que tem oprimido multidões; como o próprio Jesus afirmou em Mateus 11.28, ao dizer: "Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.". Em outras palavras, o cristianismo nos ajuda a eliminar todos os excessos de nossa vida pessoal, familiar, profissional, financeira e espiritual; sejam excessos materiais como roupas, calçados, acessórios, utensílios, ferramentas, enfeites, equipamentos, eletrodomésticos, eletrônicos e outras coisas semelhantes que quase nunca são usados e estão ocupando cada vez mais espaço no modo de vida dos indivíduos; sejam excessos mentais como ambições, desejos e sonhos de consumo que estão guiando quase que cegamente as escolhas e decisões das multidões; ou, sejam excessos pseudo espirituais sem sentido cujo único objetivo é ludibriar e criar prisões invisíveis para a vida de qualquer um. Cristãos mantém ao seu alcance apenas aqueles objetos, sentimentos, hábitos e objetivos realmente necessários para a construção sólida e o desenvolvimento de uma existência mais leve, mais simples, mais prática, mais versátil, mais produtiva, e portanto, menos estressante, menos angustiante, menos confusa e menos pautada pelos padrões exagerados da sociedade atual.
Menos ações e mais resultados; menos objetos e mais conforto; menos objetivos e mais eficiência, menos investimento e mais retorno; em resumo, menos quantidade e mais qualidade em absolutamente todas as coisas e áreas da nossa vida.
A maioria das pessoas comprou a ideia, socialmente semeada pelo espírito do mundo, de que eles precisam viver com a casa, a mente e a própria vida repleta de "tralhas e entulhos" que a sociedade considera como tesouros; e isso as leva a sempre pensar que não possuem o suficiente; assim sendo, inconscientemente, mergulham de cabeça na corrida alucinada e vertiginosa do consumo desenfreado, comprando e acumulando mais roupas, mais acessórios, mais eletrodomésticos, mais equipamentos eletrônicos, mais utensílios domésticos e absolutamente toda a gama de produtos que a sociedade é capaz de oferecer. Muitos tem se tornado viciados compulsivamente em comprar, outros; se tornaram o que a ciência chama de acumuladores, chegando, em casos mais graves, a desenvolver um distúrbio conhecido como transtorno de acumulação; entretanto, se considerarmos diligentemente como as pessoas estão vivendo atualmente, perceberemos que grande parte da população já se tornou acumuladora, mesmo que em um nível menos agressivo, mas tão negativo, quanto aquele demonstrado pelos que já desenvolveram essa patologia.
Talvez você conheça pessoas que compram todo tipo de coisa e vão colocando dentro de casa, mesmo não tendo mais espaço para isso. Eu conheço algumas; posso citar o exemplo de um antigo colega de trabalho, que gastou literalmente milhares de Reais comprando bonecos de ação de absolutamente todos os super-heróis que existem, Batman, Super-homem, Mulher Maravilha, Homem Aranha, Pantera Negra, Demolidor, todos os Vingadores, X-Men e qualquer outro que você possa imaginar. Da última vez que fui à casa dele havia caixas e mais caixas destes bonecos colecionáveis e uma infinidade absurda deles espalhadas pelos móveis da sala e pelo quarto do casal; sim, porque este indivíduo é casado e quase perdeu o casamento por causa do que ele chama de "sua coleção de heróis". A esposa dele pediu que eu e outro colega conversássemos com ele para tentar fazer, de alguma forma, com que ele, pelo menos, diminuísse aquela "coleção" ou comprasse menos daqueles brinquedos porque a casa deles já quase não tinha mais nenhum espaço. Infelizmente não fomos capazes de mudar aquele panorama e este amigo continua comprando e me enviando pequenos vídeos para mostrar suas novas aquisições.
O espírito do mundo disseminou o pensamento pernicioso de que é possível alcançar felicidade e contentamento através da obtenção de uma grande quantidade de objetos, bens materiais e sonhos de consumo. Esse pensamento é reforçado diariamente por cada uma das centenas de propagandas e anúncios comerciais com os quais somos bombardeados física e digitalmente; principalmente em países desenvolvidos como os EUA e nos países em desenvolvimento como o Brasil, as pessoas, muitas delas dentro de congregações, absorveram esse pensamento distorcido e estão tentando, através do acúmulo de posses, coisas e objetos diversos, encontrar a felicidade e a satisfação; porém sem sucesso duradouro. Eles ignoram o fato de que, como seres humanos, nossa natureza decaída tende a agir sempre da seguinte maneira:
"Quanto mais coisas temos, mais coisas desejamos ter."
Exatamente como Provérbios 27.20b afirma, quando diz: "...Os olhos do homem nunca se satisfazem.".
Mas o que os indivíduos não sabem é que quanto mais coisas alguém possui, mais tais coisas passam também a possuir essa pessoa; a partir de certo nível nós deixamos de ser os donos dos objetos que possuímos, e são eles que passam a ser os nossos donos, ou seja, quanto mais coisas possuímos, mais energias, espaço e dinheiro gastaremos para protegê-las e mantê-las, assim como, mais preocupados e ansiosos ficaremos para não perdê-las por qualquer movimentação imprevisível da vida. Por exemplo: Quanto mais roupas tivermos, mais tempo, energia, espaço e dinheiro serão demandados para lavar, passar e organizá-las minimamente bem, e mais nos preocuparemos para que uma lavagem mal feita ou algum descuido banal, nosso ou de outras pessoas, não estrague qualquer uma delas; o mesmo acontece com quase todas as coisas que entram em excesso na nossa vida; de bonecos colecionáveis de ação à nosso automóvel, de nossos utensílios e acessórios, passando por nossos livros, até nossos equipamentos eletrônicos; e muito mais. Todo excesso gera algum tipo de peso mental que também se acumula dentro de nós.
Antes que percebam, as pessoas começam a comprar e acumular muito mais roupas e acessórios do que conseguem usar; adquirem muito mais eletrodomésticos, móveis e eletrônicos do que seria o ideal para o espaço que possuem em casa; trocam mais vezes de carro do que necessitariam; fazem mais viagens do que são capazes de realmente aproveitar; aumentam cada vez mais os seus gastos com futilidades, e muitas outras coisas como essas, tudo em nome de tentar encontrar pequenas pepitas de felicidade e plenitude em meio a montanhas de coisas desnecessárias que estão acumulando.
Tais pessoas pensam que todo este acúmulo de objetos, que é perfeitamente aceitável na sociedade mundana, pode lhes agregar algum valor pessoal, ou mesmo espiritual, em relação às outras pessoas que não possuam as mesmas quantidades de coisas ou posses semelhantes; por exemplo: Sejamos sinceros aqui. Infelizmente, na sociedade mundana um homem ou mulher que dirige um Volvo, uma Mercedes, um Audi, uma BMW tende a se sentir superior aos que dirigem marcas socialmente consideradas inferiores, mas mesmo assim não conseguem se sentir realmente felizes e em paz em seu âmago, pois estão buscando a felicidade em um mero objeto que alguém prometeu que lhes faria sentir completos; e não se engane, pois esse fenômeno ocorre mesmo com pessoas dentro de congregações.
Obviamente, não são todos os indivíduos que pensam dessa maneira, mas é inegável que fomos ensinados por décadas, a falsa verdade que prega que quanto mais renomadas e desejadas as marcas que possuirmos mais bem posicionados nos colocaremos diante dos olhos e da percepção das outras pessoas e mais felizes supostamente seremos. Mas veja o ensinamento que tem mantido os verdadeiros cristãos imunes à toda essa manipulação comercial; está escrito em Romanos 12.16: "Não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos com as humildes.".
Anualmente todas as grandes empresas do mundo gastam literalmente bilhões de Dólares com marketing e propaganda para encontrar formas cada vez mais sutis e efetivas de entrar na mente das pessoas e deformar as percepções que elas têm a respeito de suas necessidades, fazendo-as acreditar que precisam de coisas que, na verdade não são necessárias; elas criam novas demandas artificiais, necessidades superficiais, para que possam vender soluções ainda mais artificiais e de curto prazo. Tais empresas são mestras em alterar os pensamentos e padrões de consumo das pessoas, acelerando-os, fazendo com que acreditem que a compra e o acúmulo dos produtos que eles têm a oferecer seja capaz, de alguma forma, de elevar o status social de um indivíduo; assim sendo, quando as pessoas passam a viver dessa maneira começam a confundir a própria identidade com as marcas das coisas e bens que possuem.
Essa mecânica acontece com praticamente tudo o que as pessoas desejam ou compram, elas passam a devotar a vida para gastar, e às vezes até desperdiçar completamente, o próprio suor, tempo e dinheiro para adquirir cada vez mais coisas, posses que por sua vez, são cada vez mais caras, em nome de finalmente comprar e "entesourar" (acumular) a felicidade, um objeto de cada vez, na vã esperança de finalmente se sentirem completas e satisfeitas com a vida por causa da "glória" contida nos objetos que estão acumulando (ao menos essa é a promessa do espírito do mundo). Mas veja o que Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, ensinou aos cristãos genuínos: "Não sejamos cobiçosos de vanglórias..." Gálatas 5.26a.
O que os minimalistas descobriram e que os cristãos verdadeiros sempre souberam é que esse processo quase nunca funciona como a sociedade promete; também por esse motivo há em Isaías 55.2b algumas perguntas para nos fazer refletir a esse respeito; está escrito? "Por que gastais dinheiro naquilo que não é pão? E o fruto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer?...". Qualquer um que reflita diligentemente sobre a vida chegará à conclusão de que a felicidade e a satisfação verdadeira não podem ser alcançadas pelo acúmulo de posses e bens materiais, não importa em quão grande quantidade os tenhamos, nem o quão caras e exclusivas elas sejam; por este motivo Paulo, apóstolo, ensinou em 1 Timóteo 6.8: "Tendo, porém, sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes."; em outras palavras, ele está dizendo o seguinte: Aprendam a levar uma vida satisfeita, feliz e realizada sem os excessos que a sociedade insiste em dizer que são indispensáveis.
O estilo de vida cristão dialoga muito bem com a filosofia minimalista porque sempre teve como base a abundância na simplicidade, o foco no essencial e a eficiência sem distrações; sempre procurando se manter afastado do acúmulo dos "tesouros" que o espírito do mundo chama de riqueza, pois trazem consigo todo tipo de turbação, inquietude e dores diversas; como demonstrado em Apocalipse 3.17; que diz: "Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és um desgraçado e miserável, e pobre, e cego , e nu)". Muitas pessoas estão vivendo com a casa repleta de todo tipo de objetos e posses (riquezas sociais), continuam comprando muitas outras, o máximo que conseguem, e sem saber o motivo, sentem-se cada vez mais descontentes, desnorteadas, incompletas, vazias e miseráveis. É incrível, mas é verdade.
E como se desvencilhar disso?
Provérbios 15.16 nos ensina isso claramente quando afirma que: "Melhor é o pouco com temor do SENHOR do que um grande tesouro onde há inquietação". Compreenda, entretanto, que ter pouco não significa ter falta, tampouco passar qualquer tipo de privação; muito pelo contrário, na essência deste versículo, ter pouco significa simplesmente ter mais do que o suficiente, porém, sem se entregar aos exageros do consumo desenfreado que inundam o nosso tempo. É usar menos para fazer e viver mais e melhor em todas as áreas da nossa existência.
Assim sendo, a forma de alguém se desvencilhar de toda essa insanidade de compras e acúmulos que se repetem, e se auto alimentam, como um ciclo vicioso e automático que está governando o estilo de viver de bilhões de pessoas pelo mundo é reduzindo, ou "minimizando" consideravelmente a quantidade de posses e bens que possuem e desejam possuir, mantendo apenas aqueles que são realmente necessários para a edificação de uma vida abundante, simples, eficiente, rica e sustentável em todos os aspectos.
Muito antes do movimento e da filosofia minimalista moderna surgir como uma válida e útil ferramenta de resposta ao caos consumista que dominou e violentou a sociedade, os cristãos genuínos, tanto aqueles com menos recursos, quanto os extremamente abastados, já adotavam práticas para minimizar todos os excessos sociais em suas vidas, pois sempre entenderam que possuindo menos coisas conseguiam ser e fazer muito mais, tanto para Deus, como para eles mesmos, quanto para todos ao seu redor, de modo a experimentarem a vida com muito mais propósito e qualidade, assim como, com muito menos desperdícios e perturbações; exatamente como Eclesiastes 4.6 ensina quando diz: "Melhor é uma mão cheia com descanso do que ambas as mãos cheias com trabalho e aflição de espírito.".
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