“...O deus deles é o ventre...” Filipenses 3.19

“...O deus deles é o ventre...” Filipenses 3.19

O deus do homem natural é o próprio homem.

Para a grande maioria das pessoas que já viveram, vivem e ainda vão viver nessa terra, há uma verdade que muitos deles desconhecem sobre si mesmos e que muitos outros perceberam, mas tentam, a todo custo, manter escondida.

Mas que verdade é essa?

De que o único deus que as pessoas, por natureza, reconhecem, são eles mesmos. Sim, o coração humano é naturalmente ególatra e narcisista, e embora muitas vezes não tenha coragem de expressar isso em palavras abertamente, faz com que as pessoas se comportem como se fossem seu próprio deus. E isso tem acontecido também dentro de congregações tanto com membros quanto com líderes.

Mas deixe eu explicar o que desejo transmitir quando afirmo que o deus do homem é o próprio homem.

Durante toda a história da humanidade as pessoas criaram formas de expressar dissimuladamente seus desejos e vontades mais profundos, nocivos, corruptos e obscuros para dominar e escravizar a mente e a vida de outras pessoas, mas sem levantar suspeitas; assim nasceram várias das figuras mitológicas do "velho mundo", as divindades, que nada mais eram do que a projeção dissimulada de características humanas personificadas na forma de um ser supostamente superior aos homens normais; assim, os sacerdotes, fingindo que estavam servindo a tais divindades, podiam controlar a mente e a vida de multidões inteiras, fazendo com que estas multidões os obedecem sobre o pretexto de que estavam cumprindo a vontade de seres superiores, quando, na verdade, estavam apenas satisfazendo o Ego, as paixões e as vaidades daqueles sacerdotes que os controlavam. Parece familiar?

Olhe para a sociedade na qual vivemos atualmente; embora as mitologias tenham ficado presas no passado distante, a maneira como os indivíduos continuam se comportando não é muito diferente; as pessoas continuam projetando sua corrupção, sua egolatria e seu narcisismo em novas personificações, tão ou mais destrutivas do que aqueles supostos deuses mitológicos. Não existe mais nenhum culto a Zeus, Júpiter, Minerva, Diana, Odin, Thor ou Ámon; mas exite o culto ao consumo, o culto à "beleza", o culto ao próprio corpo, ao dinheiro, à influência, à fama, ao prestígio, ao poder, à política e muitos outros que ganham cada vez mais adeptos tanto no mundo quanto dentro de congregações.

A sociedade tem sido uma gigantesca cacofonia furiosa produzida pelos clamores de bilhões de Egos inchados em si mesmos, inebriados e embriagados pelas próprias paixões e vaidades como em nenhuma outra época antes da nossa. Ela, a sociedade, sempre foi e ainda é, embora muito mais dissimuladamente, uma turba raivosa na qual os indivíduos pensam sempre, primeiramente, e às vezes unicamente, em si mesmos, sacrificando todos os dias o bem comum e os interesses da coletividade na busca incessante por atender e alimentar a gula interminável e irracional dos próprios interesses. Novamente, se observarmos com cautela veremos que isso está acontecendo em grande escala fora e dentro das congregações. Por isso também foi escrito que há muitos congregando na casa de Deus, mas que, na verdade, nem o conhecem; como foi dito em: "Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim." Mateus 15.18. O próprio Jesus deixou isso muito claro quando afirmou que um dia dirá abertamente a essas pessoas a seguinte frase: "...Nunca vos conheci..." Mateus 7.23

E porque Jesus dirá isso para tais pessoas? E não são poucas.

Porque elas jamais estiveram servindo ao único e verdadeiro Deus, Criador dos céus e da terra.

Mas então a quem elas estão servindo? 

É o próprio "Ego" dessas pessoas a quem elas estão sempre tentando servir, seu próprio ventre, embora nunca admitam isso abertamente. Os desejos, vontades, sonhos, planos e objetivos que eles perseguem tanto e lutam de todas as maneiras para alcançar e concretizar, nasceram como espinhos secos e venenosos de seu próprio Ego inchado e inflamado, e são amplamente incentivados pelas vozes do espírito do mundo através da sociedade.

Semelhantemente, muitos dentro de congregações têm se aproveitado delas apenas para idolatrar a si mesmos, ou seja, para a realização de seus próprios propósitos e interesses, não importando o quão egoístas, egocêntricos e megalomaníacos sejam. No fundo do coração estas pessoas dizem coisas como: Eu quero ser um pastor(a) renomado. Eu quero ser cantor(a) conhecido(a). Eu quero liderar a congregação. Eu quero influenciar as pessoas segundo a minha visão. Eu quero ter poder político. Eu quero muito dinheiro; e assim por diante. Não que estas coisas por si só sejam ruins, de fato, todas elas são boas quando legitimamente dadas a nós, na medida correta, pelo próprio Deus, independentemente da nossa vontade e para a satisfação dos interesses Dele; mas tais pessoas desenvolveram e desenvolvem técnicas, táticas e estratégias de manipulação para encobrir suas reais intenções distorcidas, disfarçando-as com a aparência de espiritualidade e fé, e, para completar o disfarce, sempre que possível fazem questão de lembrar a todos ao redor o quão dedicados(as) eles(as) são em obedecer e seguir a vontade de Deus; talvez eles façam isso porque lá no fundo sentem receio de serem desmascarados, assim como têm medo de que descubram que o deus que eles estão seguindo é o próprio ventre deles.

Mas como isso pode ser possível?

Nós, seres humanos, somos corruptos por natureza e essa corrupção que habita em nossa carne está sempre tentando prevalecer sobre nossa obediência e subserviência ao verdadeiro e único Deus. A corrupção que há em nós não aceita que conscientemente nos submetamos debaixo da autoridade e das potentes mãos de Deus, porque para ela (nossa carne ególatra) isso significa reconhecer e aceitar que há alguém acima dela, mas como ela é rebelde, arrogante e orgulhosa ao extremo, prefere achar que pode existir nesse planeta como se não houvesse ninguém acima dela, como se não houvesse o Criador. Nossa carne não se enxerga como a criatura ela quer enxergar a si mesma como o criador, por mais descabido que isso possa parecer, mas há várias provas que demonstram essa realidade, eis algumas muito simples de serem identificadas ao nosso redor:

Você alguma vez já ouviu alguém dizer as seguintes frases, ou outras parecidas:

* "Ninguém manda em mim!"

* "A vida é minha!"

* "O corpo é meu e faço com ele o que eu quiser!"

* "Sou eu quem decide o meu destino!"

* "Quem manda aqui sou eu!"

Tais frases e tantas outras semelhantes, assim como os vários comportamentos que as acompanham, nos mostram claramente que a corrupção no interior, "no ventre", das pessoas está sempre tentando provar e afirmar sua "autossuficiência" e governo sobre si mesmo, ela não tolera que exista alguma autoridade maior acima de si, mesmo que essa autoridade superior esteja interessada em nos ajudar a encontrar paz, saúde, serenidade, satisfação, direção e também nos salvar, porque para isso seria necessário que a tal pessoa abrisse mão da corrupção da sua carne, como foi dito em Gálatas 5.24: "E os que são de Cristo crucificaram a carne com suas paixões e concupiscências." ; E ser crucificada é tudo o que essa corrupção menos quer.

Essa carne corrupta que herdamos de Adão e Eva carrega vestígios da rebelião que o próprio espírito do mundo fez contra o Criador, este é o motivo pelo qual, se permitirmos, nossa carne estará sempre tentando viver como se Deus não existisse e buscando incansavelmente os próprios interesses até às últimas consequências.

E como ela faz isso?

Tentando, e em alguns casos, efetivamente, "ocupando" o lugar de Deus em nós; sim, pois nossa carne é usurpadora, nosso ventre não deseja servir, ele deseja ser servido o máximo possível como se fosse uma espécie de deus(a); é por isso que muitos mundanos lutam com todas as forças para negar a existência do verdadeiro e único Deus, assim como o senhorio universal de Jesus Cristo; da mesma forma, também, muitos em congregações fazem delas suas próprias congregações e não de Cristo; como o texto de Filipenses 2.21 deixa claro quando diz: "Porque todos buscam o que é seu e não o que é de Cristo Jesus."; essas pessoas usam as congregações não para a propagação do evangelho de Jesus, mas sim para, dissimuladamente, propagar seus próprios pensamentos, ideias, costumes, opiniões, conceitos e visão. Veja o que o próprio SENHOR diz para estas pessoas através dos tempos e ainda nos dias atuais: "O filho honrará o pai, e o servo, ao seu senhor; e, se eu sou pai, onde está a minha honra? E, se eu sou senhor, onde está o meu temor? - Diz o SENHOR dos Exércitos a vós, ó sacerdotes, que desprezais o meu nome e dizeis: Em que desprezamos nós o teu nome." Malaquias 1.6 

Estes também são os que Paulo se referiu em Filipenses 3.18 quando disse: "Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo..."; pessoas que não desejam crucificar a própria carne, e que estão em congregações apenas para usá-las para proveito próprio, embora jamais admitam isso abertamente.

E por que estou falando tudo isso?

Porque foi escrito: "...Nem todos os que são de Israel são israelitas." Romanos 9.6B; e este versículo serve para nos alertar da presença das pessoas que estão servindo a si mesmos, no meio das congregações; membros e líderes.

É muito importante, portanto, sabermos que tais pessoas estão entre nós, e identificá-las, para não sermos domesticados por elas, se é que nós mesmos também não somos assim. Precisamos ter a consciência e a sinceridade de reconhecer que muito do que queremos, fazemos e dizemos ser para Deus, é, na verdade, lá no fundo, para satisfação de nosso próprio "eu" interior, nosso ventre, e, uma vez identificando isso, precisamos abrir mão de nos comportarmos dessa maneira, precisamos enfrentar esse nosso "eu" interior carnal e corrupto para destroná-lo, parando de servir a ele para começarmos realmente a servir aos interesses e vontade do único e verdadeiro Deus, mesmo que para isso tenhamos que abandonar os sonhos que durante tanto tempo perseguimos, mas que não são nossos e nunca nos demos conta disso; ou as metas, objetivos e ambições sociais que servem mais para distrair as pessoas impedindo que vivam a vida de forma completa. O foco principal de todo cristão verdadeiro não está nas recompensas desta vida, como foi dito em: "Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens." 1 Coríntios 15.19

Se vivermos assim, servindo a nosso próprio ventre como a um deus, em busca dos tesouros e recompensas sociais, como fazem os mundanos, ou tentando nos aproveitar da congregação e procurando maneiras de usar o nome de Jesus como pretexto para satisfazer a nós mesmos, as nossas vontades, ambições, sonhos, desejos, megalomanias e até loucuras mais íntimas, como Ele mesmo disse, "vós...que desprezais o meu nome..."; estaremos vivendo de forma miserável, como se fossemos árvores mortas; pois ocupam espaço no planeta, mas não têm qualquer utilidade.

O próprio Cristo sabia que a vontade humana, a vontade da carne, do nosso ventre, é corrupta e está sempre inclinada sobre si mesma, ou seja, em auto-adoração, buscando honras pessoais, glórias individuais, e tentando desesperadamente se sobrepor à vontade e os interesses de Deus, ainda que disfarçadamente; e sabendo disso, veja a maravilhosa oração que Ele fez em um dos momentos mais importantes da história da humanidade: "Meu pai, se for possível, passa de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres." Mateus 26.39.

A vontade da carne em Jesus não queria passar pelo martírio, pela cruz e pela morte; ela queria, de alguma maneira, tomar as rédeas daquela situação para fazer as coisas de outra forma, do seu próprio jeito; como geralmente acontece conosco, mas Jesus tinha plena consciência dessa fraqueza da nossa carne humana, tanto que certa vez ele disse: "...A carne é fraca." Mateus 26.41B; em outras palavras, naquela oração, o que Ele estava dizendo era: "Pai decida o que é melhor e eu o farei, independente da vontade carnal que está em mim, ainda que seja enfrentar este grande desafio". Jesus já havia crucificado a vontade corrupta da carne muito tempo antes de Ele mesmo ser levado à cruz do calvário.

Todo aquele que crucifica a corrupção dentro de si, por mais tênue e inofensiva que ela pareça; automaticamente destitui este terrível falso deus que tenta nos domesticar, e como consequência, abre espaço para que o único e verdadeiro Deus possa nos moldar, e a nossa vida, segundo a vontade do Pai celestial, que é boa perfeita e agradável, sem as influências dissimuladas dos excessos, das vaidades, das ambições, dos apegos, e das paixões do mundo que habitam o interior das pessoas.

Se você, eu, ou qualquer um deseja realmente viver com paz, tranquilidade, serenidade, felicidade, alegria profunda, satisfação e as realizações significativas que todos os verdadeiros cristãos experimentaram no passado e ainda hoje também experimentam; precisamos necessariamente parar de fingir para nos mesmos; pois "Ninguém pode servir a dois senhores..." Mateus 6.24A . Devemos parar de tentar satisfazer nosso próprio ventre ególatra, tanto nas pequenas quanto nas grandes questões, pois do contrário passaremos a vida inteira mentindo para nós mesmos, encobrindo nossas reais intensões e tentando enganar os outros ao nosso redor; eventualmente nos tornaremos bem sucedidos segundo os olhos e a percepção da sociedade, repletos de vitórias, conquistas, tesouros, e tudo o que se possa desejar, mas sem nenhum fruto verdadeiro diante do Criador.